No último dia do XVI Congresso do PCP, Carlos Carvalhas defendeu as posições renovadoras, manifestando-se a favor da conciliação e sublinhando uma matriz de partido democrático-constitucional mais aberto.
Corpo do artigo
O secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, saiu hoje em defesa das posições renovadoras, mostrando-se a favor da conciliação e sublinhando uma matriz de partido democrático-constitucional mais aberto.
No discurso de encerramento do XVI Congresso do PCP, o líder dos comunistas contrariou teses na véspera proclamadas pelo membro da Comissão Política, José Casanova, deixando bem claro que o resultado que sai dos três dias de debates não é de um PCP «inadaptado à democracia e fixado em regras do tempo do seu heróico combate à ditadura fascista».
De acordo com Carvalhas, o PCP que sai deste Congresso será o de um partido «fundador do regime democrático-constitucional, seu intransigente e consequente defensor».
O PCP é um partido que «acolhe e se enriquece com muitas outras contribuições para além das contribuições fundadoras e fundamentais de Marx, Engels e Lenine», disse Carlos Carvalhas.
Contra o unanimismo de perspectivas e opiniões
A mensagem contra o unanimismo de perspectivas e opiniões tornou-se ainda mais clara na parte final do seu discurso, ao sublinhar a aceitação dos comunistas em relação à diversidade de opiniões.
«Muitos portugueses compreenderão que este não é o congresso de um PCP que se enerva, assusta e crispa só de ouvir falar em renovação, mas de um PCP que, no caminho complexo e acidentado de todos os empreendimentos humanos, assume a renovação como uma exigência da vida», acentuou.
Mais, ainda, de acordo com o líder comunista, para o PCP, «a renovação não é um mero código semântico para sinalizar o abandono da sua identidade, ou um conjunto de frases sonantes, mas um exigente programa de trabalho, reflexão e acção para continuar a ser ainda mais útil aos trabalhadores e ao povo, mais apetrechado para os combates que o esperam, mais influente e prestigiado».
Década de 80
Outra demarcação clara provocada por Carlos Carvalhas em relação às teses mais ortodoxas aconteceu no período em que se referiu aos acontecimentos ocorridos na Europa de Leste, no final da década de 80.
O secretário-geral do PCP lembrou que o seu partido procedeu à análise sobre esses acontecimentos «há dez anos», concluindo pela «demarcação face a todas as perversões, crimes, erros e deformações que afrontaram os ideais comunistas e tanto ensombraram a sua capacidade de atracção».
Se a plateia escutou praticamente em silêncio esta referência de Carvalhas aos desvios do socialismo do Leste europeu, o mesmo não aconteceu quando, logo a seguir, se pronunciou sobre algumas consequências positivas resultantes do espírito original da revolução soviética.
Disse que o PCP não consentirá «que as conquistas e transformações sociais, económicas e culturais internas e as grandes e positivas repercussões internacionais induzidas pela Revolução de Outubro e por outras dessas experiências sejam apagadas da história da humanidade e da memória colectiva».
Essa obra, acrescentou, não pode ser «rasurada e enxovalhada por causa dos dramáticos acontecimentos e mudanças do final da década de 80».
Renovar
Carlos Carvalhas voltou ao discurso renovador, quando traçou as linhas ideológicas que marcam e marcarão o PCP nos próximos quatro anos, afastando-se da tese de que o partido se define puramente como marxista-leninista.
«Confiamos que muitos portugueses compreenderão que este não é o congresso de um PCP ideologicamente petrificado e barricado atrás de dogmas e escolásticas citações", advertiu Carlos Carvalhas, para logo depois contrapor o seguinte.
´
O PCP, de acordo com o seu secretário-geral, «é capaz de se renovar para melhor responder aos desafios das mudanças da vida e do mundo».
Do congresso que hoje terminou também não sairá um partido «dominado por uma psicologia do cerco, ou reagindo com espírito de fortaleza assediada», assegurou.
Mais, ainda, este PCP do XVI Congresso, não poderá ser visto «como uma contra sociedade e constituído por mulheres e homens vistos como os últimos dos moicanos de uma causa perdida e naufragada», concluiu o secretário-geral comunista bastante aplaudido no final do Congresso.