A fileira de edifícios gigantescos construídos ao redor do lago Michigan fica menos iluminada nas noites de primavera. A razão não é economia de energia eléctrica. Trata-se de uma medida para evitar que pássaros migratórios choquem contra as torres de vidro.
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Em cada ano cerca de 100 milhões de pássaros morrem nos EUA ao dar de cara com os prédios ou por exaustão após terem o sentido de orientação confundido, dizem os cientistas que «qualquer edifício deve matar cerca de dois pássaros por ano», afirmou Doug Stotz, do Field Museum de Chicago.
As dezenas de arranha-céus de Chicago participam agora num projecto para diminuir esse tipo de incidente, apagando as luzes externas, o que, segundo os cientistas, resulta numa diminuição de 75 por cento no número de aves mortas.
Cerca de cinco bilhões de pássaros atravessam a metade oriental dos EUA durante migrações na primavera e no outono. Voam à noite, evitando predadores, e orientando-se pelas estrelas, a lua e acidentes geográficos na Terra, como rios, lagos ou costas oceânicas.
É um fenómeno que ainda não é compreendido totalmente, os pássaros ficam confusos com a luz dos prédios, especialmente em noites com nuvens ou neblina. Passam a voar em círculos ao redor dos edifícios até morrer de exaustão, ou vão contra as janelas espelhadas ou de aparência transparente.
Em Chicago, a Câmara Municipal resolveu aderir à cruzada para escurecer a cidade durante a temporada migratória. «Alguns prédios colocam luzes coloridas durante algumas festas ou feriados, então pensamos: por que não podemos celebrar a migração dos pássaros diminuindo as luzes?», disse Jessica Rio, do departamento ambiental de Chicago.
«Antes do programa começar havia muitos pássaros mortos no tecto durante a temporada migratória -- dava um trabalho razoável a limpar», disse Roy Endsley, porteiro da torre de 65 andares Three-Eleven South Wacker.
Infelizmente, algumas aves às vezes voam milhares de quilómetros, usando cada gota de energia para superar barreiras naturais como o golfo do México, para depois morrerem nas «armadilhas» que as luzes e janelas de vidro dos centros urbanos lhes armam.
«Se este fosse um problema bem reconhecido -- se as pessoas vissem os pássaros mortos no chão junto à entrada dos prédios, acho que muitos arquitectos se convenceriam de não usar mais vidros reflectores», disse Shankar Nair, secretário do Conselho para os Prédios Altos e Habitat Urbano, grupo que reúne engenheiros e arquitectos.
Em Nova Iorque, ponto de paragem obrigatório para os pássaros que migram ao longo da costa do rio Hudson, poucos edifícios adoptam precauções para este problema. As famosas torres gémeas do World Trade Center colocaram uma rede fina de protecção em seus andares mais baixos, que amortecem o choque dos pássaros salvando as suas vidas.
Mas a maior parte dos arranha-céus da Manhattan mata diariamente dezenas de aves, segundo voluntários que tentam promover a redução da iluminação dos prédios também em Nova Iorque.