Cientistas portugueses participam em dois dos sete projectos finalistas candidatos ao Prémio Descartes 2001, um galardão que distingue a excelência científica e tecnológica na investigação europeia conjunta.
Corpo do artigo
O segundo prémio Descartes da União Europeia (UE) vai ser atribuído hoje, na Biblioteca Solvay, em Bruxelas, com a presença do Comissário europeu para a Investigação, Philippe Busquin, e do Director Geral de Investigação, Achilleas Mitsos.
Melhorar a segurança ferroviária e determinar o impacto da redução da biodiversidade nos ecossistemas são os objectivos dos projectos onde estão envolvidos investigadores portugueses.
BIODEPTH
O BIODEPTH é o mais abrangente estudo ecológico terrestre já realizado, envolvendo uma rede multidisciplinar de cerca de 50 cientistas de oito países (Portugal, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Suécia, Reino Unido e Suíça), incluindo cinco investigadores do Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Nacional de Agronomia (ISA) e uma da Universidade de Coimbra.
O objectivo do projecto foi determinar qual o impacto da redução da biodiversidade vegetal (em declínio na Europa devido a factores como práticas agrícolas intensivas, abandono da terra ou poluição) no funcionamento dos ecossistemas.
«A conclusão é que esta redução não é indiferente, ou seja, os ecossistemas funcionam em parte baseados na biodiversidade», explicou João Santos Pereira, do ISA, que coordenou a equipa portuguesa no consórcio, citado pela Lusa.
Os resultados desta investigação foram publicados na revista «Science» no final de 1999.
Em Portugal, a experiência teve a duração de três anos (1996-1999), foi realizada numa zona de sobreiro (montado) na Companhia das Lezírias, no Ribatejo, e confirmou os resultados globais, ou seja, que a perda em espécies de plantas reduz o funcionamento dos ecossistemas.
Os resultados obtidos em Portugal mostraram, pela primeira vez, que comunidades com maior biodiversidade foram capazes de utilizar mais eficientemente a água do que as mesmas espécies a crescer em ecossistemas mais pobres.
Safetrain
Por outro lado, o «Safetrain» (Comboio Seguro), consórcio de 16 parceiros liderado pela Bombardier Transportation SA em Portugal (antiga Sorefame e ADTranz), tem por objectivo melhorar a segurança ferroviária na Europa.
A partir de um estudo sobre colisões ferroviárias baseadas em 500 acidentes ocorridos em 12 empresas na Europa entre 1991 e 1995, o consórcio procurou determinar os tipos de acidentes mais comuns e iniciou a tarefa de projectar um comboio «resistente a choques».
O consórcio centrou-se em formas de melhorar a segurança «passiva» dos comboios (capacidade do veículo resistir ao impacto de uma colisão) e de maximizar a protecção dos passageiros.
Os estudos levaram ao desenvolvimento de tecnologias de gestão da energia para absorver o impacto de forma controlada e progressiva, que foram inclusivamente testadas na Polónia.
Segundo o coordenador do consórcio, António Vacas Carvalho, os resultados do estudo vão servir de base ao desenvolvimento de uma norma europeia sobre segurança ferroviária passiva.
Além destes dois projectos com participação portuguesa, concorrem ao prémio Descartes outras cinco investigações em temas como o VIH (Vírus da Imunodeficiência Adquirida), leitura computacional de sinais cerebrais ou exploração do poder do Sol.
O prémio, que distingue feitos científicos e tecnológicos de excepção resultantes da investigação europeia conjunta, tem um valor pecuniário de um milhão de euros (mais de 200 mil contos).
Segundo um comunicado da Direcção-Geral da Investigação da Comissão Europeia, os sete projectos finalistas deste ano foram seleccionados entre mais de 50 propostas e «são prova tanto da excelência da ciência europeia como do valor acrescentado da colaboração trans-europeia».