À venda na maioria das farmácias, a bolsa Microshield é considerada o produto «milagroso» no combate às radiações nocivas emitidas pelo telemóvel. Entre Setembro e Dezembro de 2000, foram vendidas cinco mil unidades.
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Chama-se bolsa escudo anti-radiações, é comercializada pela empresa britânica Microshield Industries e já está à venda em Portugal desde 26 de Setembro de 2000.
Trata-se da mais recente solução clínica para o problema das radiações nocivas emitidas pelos telemóveis e promete reduzir o risco de exposição em 99 por cento. Só é vendida nas farmácias, visto que esta opção mostrou ser «a mais coerente com a noção de 'dispositivo de protecção'», segundo informações prestadas à TSF Online pela representante da Microshield em Portugal.
É o primeiro produto comercializado que protege o utilizador não só das radiações emitidas pelo corpo do telemóvel, mas também das provenientes do teclado, visor e antena do aparelho. Isto porque, além das camadas em cabedal que lhe conferem um aspecto esteticamente agradável, a bolsa é composta por um «material especial utilizado na indústria da protecção contra radiações» e até possui um «protector de antena ajustável, em metal revestido a poliester», segundo informa a representante da marca.
Há quem questione a sua eficácia, mas é certo que a bolsa anti-radiações foi aprovada pela Direcção Geral de Saúde (DGS), depois desta analisar exaustivamente estudos oficiais elaborados por vários laboratórios internacionais.
A representante da empresa britânica diz mesmo que «as características técnicas e tecnológicas comprovadas por vários laboratórios mundiais têm de ser valorizadas e jamais em situação alguma podem ser as bolsas Microshield tratadas como meras 'capas'».
«Meras 'capas'» também não iriam custar 14.500 escudos, o preço de venda ao público (P.V.P) recomendado pela empresa que, mesmo assim, garante que «foram vendidas aproximadamente 5 mil bolsas Microshield, de Setembro a Dezembro de 2000» em Portugal e adianta que o «objectivo de vendas para 2001 é de 40 mil bolsas».
Produto «muito solicitado, mas não muito vendido»
Essa ideia não é partilhada por Carolina de Jesus, da farmácia «Estádio», em Coimbra que, em declarações à TSF Online, defende que o produto «é muito solicitado, mas não é muito vendido».
«Normalmente as pessoas dirigem-se à farmácia e pedem não especificamente uma bolsa escudo anti-radiações mas qualquer coisa - uma borboleta, que também se falou em tempos - que proteja das radiações. Nós indicamos a bolsa porque sabemos que é o mais eficaz que está comercializado actualmente, no entanto, depois de saberem os preços ficam um bocado dissuadidas. Por isso, não é muito vendido», afirma Carolina de Jesus.
Mesmo assim, o preço das bolsas na farmácia «Estádio» vão um pouco além do preço recomendado pela representante da Microshield.
«O preço das bolsas varia mediante a marca do telemóvel, porque as bolsas são diferentes. Contudo, os limites máximos e mínimos, salvo o erro, são 19.500 e 21.500», informa a farmacêutica.
Uma diferença considerável, que varia entre os quatro e os seis contos, mas que pode muito bem ser responsável pelas poucas vendas efectuadas naquela farmácia. Segundo Carolina de Jesus, só formam vendidas «quatro ou cinco bolsas. Solicitadas foram umas 20».
Para esta farmacêutica, o grande problema reside na falta de informação. As pessoas mal têm consciência dos graves problemas de saúde que as radiações dos telemóveis provocam e muito menos sabem que já existem produtos comercializados para evitar essa exposição nociva.
E mesmo aqueles que têm conhecimento da existência da bolsa, por vezes não sabem «até que ponto é que a capa é eficaz e também não fazem ideia até que ponto é que o telemóvel que trazem na mão emite ou não radiação».
Assim a farmacêutica aconselha as pessoas a «verem ao pé de um aparelho que mede a radiação o que é que o telemóvel faz e depois o que é que a capa impede que ele faça».
Radiações nocivas são uma preocupação internacional
Certo é que se o telemóvel simplifica em muito a vida das pessoas também traz consigo graves problemas de saúde. Dores de cabeça, problemas na visão e audição, zumbidos, percas de memória temporária são alguns dos sintomas. Mas mais grave que isso são as suspeitas de existir uma forte ligação entre o uso do telemóvel e o cancro.
A suspeita é tão grande que a Comissão Europeia já decidiu dispensar 5,5 milhões de dólares, cerca de 1700 mil contos numa investigação em que serão inquiridos mais de 9 mil indivíduos, de 14 países diferentes, que sofrem de cancro.
O projecto pretende desvendar qual a relação entre telemóveis e o cancro, conta com a participação de três centros de estudo de cancro no Reino Unido e os seus resultados estarão disponíveis lá para 2003 ou 2004.
Mas como a certeza ainda tarda, a DGS resolveu optar pela precaução e emitiu um parecer onde defende dois princípios: primeiro, o «recurso à opção zero», isto é, aconselha a não utilizar o telemóvel e segundo, o princípio de ALARA, caso o utilizador opte por usar o aparelho, «a exposição às radiações deve ser tão baixa quanto razoavelmente possível».