Sem preconceitos, o professor Alexandre Quintanilha assume que a clonagem humana tem que ser equacionada, no mesmo dia em que Bush apresenta um projecto-lei ao Congresso para o proibir.
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Decorre em Lisboa um colóquio internacional sobre os Novos Paradigmas do Saber em que participam peritos portugueses e estrangeiros. A intervenção de Alexandre Quintanilha entusiasmou a assistência, esta quinta-feira, ao focar a atenção nesse tema polémico.
«Não recomendaria a ninguém que se clonasse, mas não faria uma lei que dissesse que é proibida a clonagem porque o proibir qualquer coisa na sociedade que conhecemos é sempre mau. Pois sabemos que proibir qualquer coisa aqui faz com que ela se desenvolva primeiro sem controle nenhum noutro sítio e debaixo da mesa», afirmou.
No futuro, qualquer grande desafio social e político, incluindo a hipótese de clonagem humana, depende da percepção do risco associada aos processos de individualização e globalização em que todos nós, sem excepção, estamos envolvidos.
Por isso mesmo, Alexandre Quintanilha sublinha que nenhuma porta deve ser fechada.
«Não excluo da minha concepção que um dia possa haver clonagem humana, não para fins necessariamente reprodutivos, mas para fins terapêuticos por exemplo. Mas mesmo para fins reprodutivos não me choca porque o número de pessoas que o usariam para fins reprodutivos seria pequeníssimo. Porquê? Porque os métodos tradicionais até parece que funcionam e até parece que dão algum prazer às pessoas. Portanto, os métodos tradicionais funcionam muito bem», acrescentou.
Alexandre Quintanilha lembrou que a imaginação e curiosidade sempre foram vistas, ou como perigosas, ou como libertadoras do sere humano.
A relação entre benefícios e custos associadas a novos conhecimentos continua a ser visto de modo muito variado. Uns só conseguem ver perigo, outros apenas promessas, quase todos serão sempre surpreendidos pelo imprevisível.
Bush apresenta projecto-lei contra
A administração Bush apresentou um projecto-lei ao Congresso norte-americano que visa proibir qualquer forma de clonagem humana, incluindo a utilização de embriões clonados com fins terapêuticos, indicou um alto responsável do executivo republicano.
O secretário de Estado da Saúde, Tommy Thompson, e o presidente George Bush «opõem-se a qualquer tentativa de clonar um ser humano», sublinhou o adjunto para a Saúde, Claude Allen, durante uma audição perante um comissão da Câmara dos representantes.
«Opomo-nos à utilização das técnicas de transferência nuclear
das células somáticas, seja para auxiliar a reprodução humana seja para desenvolver terapias celulares ou teciduais», precisou Allen, sublinhando que a clonagem «coloca questões morais e éticas preocupantes para a Humanidade».
No entanto, a administração Bush é favorável ao desenvolvimento destas terapias, não a partir de embriões, mas de genes, células ou tecidos de origem humana ou animal.
Esta é a primeira vez que o novo executivo republicano afirma de forma tão clara a sua posição sobre esta matéria.