Um ano depois do apelo de Cavaco Silva para o combate à corrupção, PS e PSD, assim como a PJ e a directora do Departamento de Investigação Criminal, concordam que a investigação continua pouco eficaz no que diz respeito ao crime económico e de corrupção.
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Depois de ter feito aprovar várias leis na Assembleia da República para combater a corrupção, o Partido Socialista afirma que o problema está na investigação criminal.
«Eu penso que temos um problema de eficácia de investigação criminal, no sentido que a investigação ainda não permite condenações nos tribunais [porque os processos nunca acabam numa condenação]», considera o socialista Ricardo Rodrigues.
Já a leitura feita por Fernando Negrão, do PSD, é diferente. «A responsabilidade é repartida por todos: aos legisladores porque não conseguem ter um quadro legislativo adequado ao combate à corrupção, ao Governo porque não introduz as reformas necessárias, e a investigação criminal que continua morosa pouco virada para o crime económico».
Um ano depois do discurso do Presidente da República, o ex-director da Polícia Judiciária recordar que Portugal perdeu dois lugares no quadro de honra no ranking da International Transparency.
Também a directora do Departamento Central de Investigação Criminal, Cândida Almeida, está pessimista porque considera que novo Código de Processo Penal dificulta o sucesso das investigações aos casos de alta corrupção.
Cravinho chocado com incompreensão do PS
O ex-deputado socialista João Cravinho disse hoje em entrevista à Visão ter ficado «chocado» com a «absoluta incompreensão» demonstrada pelo PS face ao fenómeno da corrupção, tema que causava «profundo mal-estar» no partido.
Em entrevista à Visão, João Cravinho, que renunciou no início do ano ao mandato de deputado para administrar o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) em Londres, diz ter ido até ao limite do que podia no debate sobre combate à corrupção.
«Foi dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como um corpo estranho no corpo ético do PS. Apesar de algumas dificuldades que antevia, não contava com uma atitude de absoluta incompreensão para a Natureza real do fenómeno da corrupção», diz Cravinho à revista.