Imagens do cometa Borrelly captadas pela sonda da NASA Deep Space 1 revelaram um objecto inesperadamente complexo, com uma superfície desigual composta por zonas onduladas e depressões vincadas.
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A sonda, que está prestes a atingir o fim da sua vida útil, voou até cerca de 2.156 quilómetros do cometa Borrelly e tirou dezenas de fotografias no fim-de-semana.
As imagens do núcleo do cometa revelaram três camadas de poeira e um centro gelado coberto por um material negro resinoso.
É uma espécie de gelado coberto de chocolate do tamanho do monte Everest, afirmou Don Yeomans, um especialista em cometas do Jet Propulsion Laboratory da NASA, onde os resultados do encontro entre a sonda e Borrelly foram divulgados.
Todos os instrumentos científicos da sonda recolheram dados durante o encontro.
«As ferramentas viram, cheiraram e ouviram a atmosfera do ambiente à volta do cometa», afirmou Marc Rayman, o director da missão.
Este sucesso é uma espécie de bónus para os investigadores da NASA, já que a Deep Space 1 se encontra praticamente sem combustível, devendo ser desactivada até final do ano.
Os especialistas consideram mesmo que poderá significar um relançamento nas actividades da Agência, fustigada pelos insucessos do programa de exploração de Marte e pelo anúncio de cortes orçamentais na ordem dos cinco por cento, que poderão ser ainda maiores devido ao clima pós-atentados terroristas que se vive nos Estados Unidos.
Os cientistas estão interessados nos cometas porque esperam encontrar neles vestígios dos ingredientes mais primitivos que originaram o sistema solar há 4,5 mil milhões de anos.
O véu luminoso de gás e poeira que rodeia Borrelly é provavelmente tão grande como a Terra, mas o núcleo do cometa aparenta não ter mais de quatro quilómetros de largura por oito quilómetros de comprimento.
Borrelly apresentava-se particularmente activo durante a aproximação que a Deep Space 1 realizou no sábado, libertando materiais que darão aos cientistas pistas sobre a sua composição.
A missão da sonda decorreu a 220 milhões de quilómetros de distância da Terra, uma semana depois da trajectória da órbita do cometa, que demora sete anos, tê-lo levado até ao seu ponto de maior aproximação do Sol.
Os instrumentos da sonda registaram os níveis de iões, electrões, gases e os campos magnéticos e eléctricos junto do cometa.
Os engenheiros da NASA receavam que as partículas libertadas pelo cometa, voando a 59.400 quilómetros horários, pudessem danificar ou destruir a sonda, que concluiu a sua missão principal há dois anos, testando uma dúzia de inovações tecnológicas.
A sonda Giotto da Agência Espacial Europeia (ESA) foi a primeira a espreitar os segredos de um cometa quando se aproximou do Halley em 1986.
As imagens obtidas pela sonda europeia mostram o cometa a «desfazer-se» em gelo e poeira à medida que os raios solares iam aquecendo a sua superfície.