Toxinas altamente nocivas ao sistema nervoso central foram detectadas em águas doces portuguesas, o que acontece pela primeira vez na Europa. Um estudo realizado por vários países publicado na revista «Toxicon» explica tudo.
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Um estudo realizado por investigadores portugueses, chilenos e japoneses agora divulgado, na edição de Dezembro da revista científica norte-americana Toxicon, revelou a presença de toxinas com efeitos agudos, ao nível do sistema nervoso central, em águas doces da região de Montargil.
Trata-se de «saxitoxinas» e derivados (toxinas produzidas por micro-algas em água doce). Segundo Paulo Pereira, investigador do Laboratório de Microbiologia Experimental, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge e um dos autores da investigação «este tipo de toxinas já é conhecido no meio marinho, nomeadamente em bivalves, sendo alvo de monitorizações regulares».
«A novidade é que, pela primeira vez na Europa, estas toxinas foram detectadas em água doce que pode ser utilizada para actividades recreativas, agricultura ou até para consumo», acrescentou.
No entanto, para o cientista esta descoberta não é alarmante, uma vez que ainda se desconhecem as concentrações de toxinas nas águas.
A descoberta representa uma chamada de atenção para que se faça também o controlo das toxinas em água doce, à semelhança do que acontece na água do mar.
Paulo Pereira sublinha que este não é um problema exclusivamente nacional e que Portugal até faz ocasionalmente monitorizações em água doce, o que não acontece a nível europeu e muito menos mundial.
Este tipo de toxinas (designadas no artigo científico como «paralytic shellfish toxins») já foram detectadas em água doce nos Estados Unidos e na Austrália, onde provocaram inclusivamente mortes de animais.
As toxinas referidas actuam ao nível do sistema nervoso central e têm um efeito agudo muito elevado. A dose letal para o homem ronda os dois a quatro miligramas e desconhece-se o valor preciso, uma vez que nunca se registou qualquer caso mortal entre humanos.
Assim, a ingestão destas toxinas provoca dormência na boca e extremidades, calafrios e tremuras, podendo conduzir à morte por falha respiratória. Mas não se sabe até que ponto o aparecimento destas toxinas em água doce portuguesa é pequeno, nem qual a concentração de toxinas presente, eventualmente, em águas para consumo.
O trabalho que será feito agora é no sentido de se determinar qual o grau de risco existente e as formas de o controlar.