A madrugada desta terça-feira em França voltou a ficar marcada pela violência urbana. Para além de mais de um milhar de viaturas incendiadas e mais de 300 detenções, os distúrbios atingiram também vários edifícios de apoio social. Em resposta à violência, o governo francês autoriza hoje os presidentes da câmara a decretar o recolher obrigatório.
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Pela 12ª noite consecutiva, os confortos entre a polícia e jovens em França provocaram vários feridos e muitos estragos, ainda que as autoridades já admitam uma diminuição ligeira da violência em determinadas localidades.
Segundo um balanço feito ao início da manhã pela polícia francesa, a violência urbana desta madrugada resultou em 1173 viaturas incendiadas, 330 detenções e 12 feridos entre as forças polícias.
Os actos de violência incluíram mais uma vez disparos de tiros contra as forças policiais, mas sem fazer vítimas, e menos de uma dezena de edifícios foram alvo de incêndios.
Das viaturas incendiadas, 933 casos ocorreram na província, contra 982 verificados na noite anterior, e 240 na região parisiense contra 426 na madrugada de segunda-feira.
Segundo fonte próxima do ministro do Interior, citada pelas agências internacionais, o número de ocorrências assinalava uma «nítida tendência para a diminuição na região parisiense e para a manutenção na província».
Em Seine-Saint-Dennis, na periferia norte de Paris, onde os actos de violência começaram há 12 dias, a prefeitura deu conta de «um nítido decréscimo» de incidentes.
Ainda assim, há a assinalar naquela localidade o incêndio de um ginásio, um colégio e um autocarro. Registou-se também a agressão de dois jornalistas de uma cadeia de televisão italiana em Clichy-sur-Bois, arredores de Paris.
Ainda na região parisiense os incidentes desta madrugada incluem o lançamento de um cokctail Molotov contra a fachada de um hospital em Vitry-sur-Seine, na zona leste da capital.
Na província, a Polícia destacou os incêndios numa creche e numa agência do Centro de Emprego em Bordéus (sudoeste de França), e de várias creches em Vaulx-en-Velin (centro), no Havre (noroeste) e em Brest (leste).
Em Auxerre, na zona centro, 15 pessoas foram transportadas para um hospital com dificuldades respiratórias depois de se ter declarado um incêndio numa cave do edifício em que residiam, tendo sido necessário retirar todos os moradores do prédio.
Também nas zonas periféricas de Toulouse (sudoeste francês), onde a violência recomeçou ao cair da noite, um autocarro, cujos passageiros tinham sido convidados a apear-se, e cerca de 30 viaturas foram incendiados e jovens apedrejaram os polícias que protegiam os bombeiros.
Governo francês autoriza recolher obrigatório
Perante a manutenção da violência, o governo francês decidiu reactivar os dispositivos de uma lei aprovada em 1955, para decretar o estado de emergência na Argélia, que permitirá aos presidentes de câmara decretar o recolher obrigatório caso julguem ser necessário. A medida será aprovada ainda esta terça-feira em conselho de ministros.
O anúncio foi feito segunda-feira à noite pelo primeiro-ministro francês, durante uma intervenção ao país.
Dominique Villepin anunciou, ainda, um reforço do dispositivo de segurança com a mobilização de 1500 reservistas da Polícia e da guarda, aumentando assim para 9.500 o número dos efectivos mobilizados para conter a onda de violência urbana, iniciada a 27 de Outubro.
Sem esperar pelas medidas governamentais, o presidente da Câmara de Le Raincy (arredores de Paris) anunciou um recolher obrigatório para os menores não acompanhados desde segunda-feira à noite.