É fácil escrever em poucas palavras quem foi Carlos Drummond de Andrade, o Poeta das Sete Faces. Difícil é descrever, também em poucas palavras, a vida repleta deste poeta, cronista, pedagogo, funcionário público, comunista.
Corpo do artigo
Carlos Drummond de Andrade, considerado como um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura latino-americana, nasceu para o mundo há cem anos em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais.
Filho de fazendeiros que não gostava do campo, forma-se em Farmácia, em 1925, mas é mais atraído pelas discussões sobre a arte e o país do que pelas aulas de química, pelo que nunca chega a exercer a profissão.
Ao longo da sua vida o prazer da escrita revelou-se mais forte e desde muito cedo colaborou com jornais de vários quadrantes. Carlos Drummond de Andrade foi mesmo um dos primeiros colaboradores regulares do 'Jornal do Fundão'.
Ligado ao Partido Comunista desde o inicio da década de 40, escreve poesias de fundo social, como «A Rosa do Povo» (1945). A indignação pelas desigualdades sociais não o deixam perder o profundo lirismo, o sentido de humor e a emoção forte, muitas vezes contida. Como ele próprio refere numa entrevista ao 'Jornal do Brasil', em 1987, «fiz da minha poesia um sofá de analista».
Com Drummond e o seu primeiro livro «Alguma Poesia», editado em 1930, iniciou-se a segunda fase do Modernismo brasileiro.
O modernismo e o estilo do poeta mineiro levaram-no, com a sua linguagem em diferentes ritmos à popularização num país onde se lê pouco.
Os versos «No meio do caminho tinha uma pedra» Ou, «E agora, José?» Estes foram versos que entraram para a História como ditos populares e mantêm-se até hoje.
São vários os estudiosos que referem Carlos Drummond de Andrade como um dos poetas que aparecem de tempos a tempos e conseguem apreender e reflectir poeticamente as inquietações de uma época, tal como Camões e Fernando Pessoa o fizeram.
A sua vasta obra de poesia e prosa, que reúne publicações de 1930 a 1986, tem suscitado, nos últimos anos, inúmeros estudos por parte da melhor crítica literária brasileira.
Não são só os eruditos que o prestigiam, o povo fê-lo quando ainda em vida pode apreciar e agradecer o carinho que tinham por si, embora sempre descrente quanto ao futuro da sua obra. A Escola de Samba da Mangueira ofereceu-lhe um samba enredo 'O reino das Palavras' e foi a campeã do Carnaval de 1987. No dia 5 de Agosto do mesmo ano morre a mulher que mais amou na vida, a filha Maria Julieta. Não sabendo como suportar o desgosto pediu ao médico que lhe receitasse «um enfarte fulminante». Doze dias depois, a 17 de Agosto de 1987, encontrou na morte o que tanto procurou, a paz.
Morreu, a pedido, desiludido, agnóstico, solitário e céptico perante a posteridade, pois sempre foi injustamente rigoroso com a obra que escreveu. A sua 'vida' depois da sua morte veio a provar exactamente o contrário.