Mário Soares considera que o Governo deve ser menos arrogante e mais autocrítico. Em entrevista ao Diário Económico, o ex-Presidente da República reconheceu ainda a existência de um mal-estar em Portugal, que atinge em particular os mais pobres.
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Mário Soares recomendou, em entrevista ao Diário Económico, «menos arrogância» ao Governo português e reconheceu que se vive num mal-estar social em Portugal.
«É, talvez, preciso mais sentido de autocrítica e menos arrogância nas respostas», comentou o ex-Presidente da República sobre os «episódios desagradáveis» de autoritarismo «muito empolados, mas que devem ser evitados e corrigidos».
O fundador do PS considerou ainda que está a verificar um esvaziamento ideológico no governo liderado por José Sócrates e que o «mal-estar na sociedade portuguesa que não deve ser ignorado» está a atingir em particular os mais pobres.
Na entrevista, Mário Soares criticou o facto de o Executivo estar demasiado centrado no primeiro-ministro e que esse factor pode ser negativo no decorrer da actual presidência portuguesa da União Europeia, por causa da agenda pessoal de José Sócrates.
Soares defendeu ainda o «Estado Social», que considerou não só possível como também um imperativo moral, e mostrou-se a favor de um referendo ao tratado europeu caso este implique a «alienação de parcelas de soberania».
O ex-Presidente considerou ainda o estado do mundo como «deplorável», muito embora a «esperança seja a última a morrer» e entende que não se pode «diabolizar» o presidente venezuelano Hugo Chávez.
Mário Soares explicou que Chávez chegou ao poder através de eleições livres, verificadas por observadores internacionais, e que afinal não se verificou nenhum fecho de um canal televisivo.
«Apenas no final da concessão, não lhe renovou a licença. Era um canal de imensa agressividade e impertinência para com o presidente eleito. Vi, em Caracas, algumas emissões, e sei o que era», recordou.
Nesta entrevista que concedeu, Soares considerou ainda estar bem, não se queixar de nada, estar virado para o futuro, tendo revelado que raramente pensa na morte.