O ex-líder parlamentar comunista Carlos Brito admitiu esta segunda-feira à Agência Lusa que está a ponderar abandonar o PCP e acusou o partido de caminhar para a extrema-esquerda «burocrática» e «sectária».
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«Vejo com muita preocupação a situação. O PCP está a dar passos que vão no caminho de uma crepuscularização de tipo ML (marxista-leninista). Esta crescente sectarização, que vai um bocado para a sua redução, significa uma cada vez maior esquerdização burocrática», afirmou.
Discordante da orientação oficial do PCP há alguns anos, Carlos Brito foi suspenso por dez meses em 2002, acusado de «comportamento fraccionário», na mesma altura em que os ex-dirigentes Edgar Correia e Carlos Luís Figueira foram expulsos do partido.
Terminado o prazo da suspensão, o dirigente histórico optou em 2003 pela «auto-suspensão», admitindo agora, na sequência do XVII Congresso do PCP, a possibilidade de abandonar o partido.
Questionado pela Lusa, Carlos Brito afirmou que os resultados do congresso comunista, que terminou domingo, lhe deram «mais fortes razões» para ter optado pela auto-suspensão e também para «reflectir» sobre a sua saída.
«Tenho tempo para decidir, para analisar melhor. Depende da minha reflexão», afirmou o dirigente histórico.
Ex-candidato à Presidência da República, em 1988, Carlos Brito foi líder parlamentar do PCP entre 1976 e 1991 e director do órgão oficial do partido entre 1992 e 1998.
O XVII Congresso do PCP, que decorreu entre sexta-feira e domingo, elegeu Jerónimo de Sousa como secretário-geral, em substituição de Carlos Carvalhas, e aprovou uma resolução política e os estatutos, que reafirmam a orientação marxista-leninista e mantêm o centralismo democrático como forma de funcionamento do partido.