Mário Soares considera que existe «défice de presidência» em Portugal, em particular devido ao corporativismo. Na apresentação de um livro de Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente português disse ainda que a política vem sempre à frente da economia.
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Mário Soares entende que há um «défice de presidência» em Portugal resultante da actuação das corporações, uma ideia que retirou do último livro de Fernando Henrique Cardoso.
«Este livro tem uma frase emblemática que era aplicável hoje aqui ao lado: 'o défice da presidência tem um amigo oculto: o corporativismo'. Sem o corporativismo e sem as corporações realmente o défice da presidência seria mais facilmente resolvido», disse.
Na apresentação do livro do ex-presidente brasileiro «A Arte da Política - A História que Vivi», feita na Fundação Mário Soares, o antigo presidente português lembrou ainda que a política vem à frente da economia.
«O que comanda não é a economia, o que comanda mesmo em pleno neo-liberalismo é a política», continuou em mais um recado que decidiu dirigir para Cavaco Silva.
Soares comentou também a actual situação política brasileira para dizer que Lula da Silva que, segundo as últimas sondagens, está em boas condições para ser reeleito, foi um «bom presidente».
«Lula é uma figura interessante. Evidentemente que houve problemas, que são conhecidos, mas parece-me que não afectaram a sua popularidade», acrescentou.
Nesta apresentação, Fernando Henrique Cardoso considerou que um político após ser eleito, tem de convencer a sociedade e restabelecer o seu prestígio todos os dias.
«As pessoas dizem: recebi 30, 40 milhões de votos. Mas isso foi naquele dia, no dia seguinte não tem nada, zero votos. Tem de ir outra vez restabelecer o seu prestígio, a sua força e a sua legitimidade. No dia-a-dia tem de falar à sociedade, tem de convencer, pelo menos em democracia», explicou.