O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho, quer mais pressão sobre a junta militar de Myanmar para que a ajuda internacional possa chegar a este país afectado pelo ciclone Nargis. Entretanto, a AMI continua a tentar entrar na antiga Birmânia.
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O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros considera ser necessário aumentar a pressão sobre a junta militar que controla Myanmar para que a ajuda internacional possa às vítimas do ciclone Nargis, que matou quase 32 mil pessoas e fez desaparecer quase 30 mil pessoas.
Em declarações à TSF, João Gomes Cravinho quer que os líderes da antiga Birmânia entendam que «há uma comunidade internacional inteiramente disponível para apoiar a situação de emergência em que esse povo se encontra».
Para este responsável da diplomacia portuguesa, a junta militar tem mesmo uma «obrigação moral e política de abrir as fronteiras e permitir o acesso às organizações de ajuda humanitária».
Gomes Cravinho, que vai representar Portugal numa reunião de emergência em Bruxelas sobre a situação provocada pelo ciclone Nargis na Birmânia, disse ainda que os habitantes locais necessitam de medicamentos e alimentação numa primeira fase.
«Depois haverá um longo período de um ano ou mais de um trabalho de reabilitação», acrescentou o secretário de Estado, que diz ser agora necessário recolher alimentação vinda em particular do norte de Myanmar ou de países fronteiriços como a Tailândia.
«Estão a ser colocados em posição todos os dispositivos necessários para trazer alimentação e medicamentos para a população afectada, mas para isso precisamos em primeiro lugar de ter as devidas autorizações das autoridades da Birmânia», concluiu.
Por seu lado, o responsável máximo da Assistência Médica Internacional (AMI), confirmou que a sua organização ainda procura obter vistos de entrada na antiga Birmânia, agora na embaixada de Myanmar em Roma.
Fernando Nobre explicou que a sua organização foi aconselhada a escolher este caminho por a representação diplomática em Roma estar «menos atafulhada com pedidos de entrada» do que a da Tailândia.
«Tem sido um jogo do gato e do rato extremamente extenuante para não dizer angustiante e revoltante. Vamos ver se a cimeira dos 27 em Bruxelas conseguem exercer um pouco mais de pressão», acrescentou.
Fernando Nobre defendeu ainda a abertura das fronteiras entre Myanmar e a Tailândia e pediu para que sejam concedidos vistos de entrada no aeroporto de Rangum, a capital de Myanmar.
Estas declarações surgem no dia em que a ONU considerou que as equipas de socorro no país devem criar uma «ponte aérea ou uma ponte marítima» para evitar uma «segunda catástrofe» em Myanmar.
A ONU que calcula que exista,m cerca de 1,5 milhões de sobrevimentes desta catástrofe que necessitam de ajuda de emergência e que «para alimentar 750 mil pessoas durante três meses serão necessárias 50 mil toneladas de arroz, metade das quais importadas».
Entretanto, a organização humanitária Save the Children calcula que 40 por cento das pessoas que morreram vítimas deste ciclone são crianças, algo que aconteceu porque 40 por cento por cento da população birmanesa tem menos de 18 anos.
Ainda de acordo com esta organização, o elevado número de crianças mortas neste ciclone tem também a ver com a sua vulnerabilidade aos ventos que atingiram os 200 km/h e à súbita subida das águas.