A greve dos maquinistas da Fertagus começa hoje. O sindicato acusa a empresa de estar a sobrecarregar os trabalhadores. A administração nega e diz que esta é uma «desculpa» para negociar contratos colectivos de trabalho.
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Os maquinistas da Fertagus, concessionária da Ponte 25 de Abril, em greve há três meses e meio, iniciaram hoje uma paralisação de 48 horas por melhores condições de trabalho, convocada pelo Sindicato Nacional dos Maquinistas.
A greve não vai deixar sem comboios a ponte 25 de Abril, embora 21 maquinistas estejam esta sexta-feira de braços cruzados.
O dirigente do sindicato António Medeiros acusa a administração da Fertagus de estar a funcionar com maquinistas em trabalhos «forçados».
«A empresa continua a substituir os maquinistas em greve por trabalhadores com a categoria de chefe-maquinistas com cerca de seis ou sete que não aderem à greve. Portanto, realizam-se comboios com período de trabalho prolongados com 13 ou 14 horas, sem descanso», disse.
Fora da lei
«A Fertagus está obcecada em manter contra estes maquinistas uma atitude de incumprimento da lei, de desrespeito pelas regras mínimas de condições de trabalho, ameaçando com despedimentos, com processos disciplinares», acrescentou o sindicalista.
O responsável adiantou ainda que a empresa não cumpre as notificações da Inspecção do Trabalho. «Queremos acima de tudo um processo de negociação para o conflito que normalize as relações de trabalho na empresa:»
O sindicato pretende manter em aberto com a administração do Fertagus o processo de negociação, embora denunciem o que considerem ser um atropelo ao que está estabelecido na lei da greve.
Fertagus à defesa
Cabaço Martins, da administração da Fertagus, defende-se das acusações do sindicato: «Esta greve de hoje vem na sequência de outra que o sindicato dos maquinistas vem decretando ou vem ameaçando executar desde 8 de Setembro. A normalidade dos serviços tem vindo a ser garantida com o trabalho de uma série de maquinistas, não põe em causa a segurança da circulação como o sindicato tem vindo a afirmar nem o número de horas normais de trabalho».
O administrador garante que «não há qualquer tipo de sobrecarga, nós temos muito mais gente a trabalhar do que o dirigente do sindicato referiu, digamos que há menos gente em greve, temos cerca de 18 maquinistas em greve e não 21, já houve alguns maquinistas que regressaram livremente ao trabalho».
Nada a esconder
Os maquinistas estão a trabalhar em «horários normais». «Não temos nada a esconder. Somos uma empresa aberta, que informa as instituições relativamente aos horários que cumpre, portanto há aqui um sofisma relativamente a toda esta questão», garantiu.
Cabaço Martins considera que existe «uma teimosia da parte do sindicato em celebrar a todo o custo um acordo colectivo de trabalho. Essa é a questão de fundo, não há nenhum problema laboral ou de condições de trabalho na Fertagus. É uma empresa moderna, que tem condições de trabalho modernas, que tem toda a gente efectiva, não há um único contrato a prazo. É importante que as pessoas percebam que as relações de trabalho estão normalizadas. A Fertagus tem mais de 150 trabalhadores e portanto existe paz social, um bom ambiente de trabalho.»
O administrador adiantou ainda que «neste momento não há nada a negociar porque as relações de trabalho estão estáveis com excepção de alguns trabalhadores representados por esse sindicato que pretendem até por razões históricas e estratégicas do sector e da própria corporação introduzir contratos colectivos que neste momento seriam inaceitáveis e seriam desastrosos para o equilíbrio financeiro da empresa».