O primeiro-ministro admitiu, num dicurso algo dramático, que houve erros na constituição da Fundação para a Prevenção e Segurança, mas insistiu estar «de consciência tranquila» e defendeu Armando Vara e Luís Patrão. Guterres disse ainda que ontem foi um dos «piores dias» da sua vida.
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O primeiro-ministro admitiu que houve erros na constituição da Fundação para a Prevenção e Segurança, mas insistiu estar «de consciência tranquila» e defendeu Armando Vara e Luís Patrão.
«Não faço julgamentos populares. Não faço julgamentos na praça pública. Confio na investigação dos orgãos da Justiça», disse o primeiro-ministro na Assembleia da República.
Num tom algo dramático, Guterres garantiu que «o Governo nada tem a esconder e quer que tudo se esclareça até ao fim», nomeadamente com o pedido de investigação à Fundação pela Procuradoria-Geral da República, Inspecção-Geral da Administração Interna e Tribunal de Contas.
António Guterres reconheceu, aliás, que teria sido «mais fácil» demitir o ministro Armando Vara e o secretário de Estado Luís Patrão, quando a questão da Fundação para a Prevenção e Segurança foi lançada para os jornais.
«Não está ou esteve em causa qualquer questão de natureza táctica. Nada seria mais conveniente ao primeiro-ministro do que demitir ministro Armando Vara e o secretário de Estado Luís Patrão. Se estivesse em causa a defesa da minha imagem, seria isso que eu teria feito», acentuou.
António Guterres defendeu os seus governantes, afirmando-se convicto que não agiram com má-fé nem houve utilização abusiva de dinheiros públicos ou compadrio na formação da Fundação para a Prevenção e Segurança.
«Se eu estivesse convencido de que terá havido má-fé por parte de membros do Governo ou utilização indevida de dinheiros públicos ou corrupção, não hesitaria em demitir Armando Vara e Luís Patrão», assegurou.
Guterres disse também que agirá como é seu dever, se os erros se provarem. «Pode ter havido erros. Se os erros se provarem, agirei como é meu dever político», salientou.
O primeiro-ministro aproveitou o debate para, depois de questionado pelo líder do CDS/PP, revelar que o ex-ministro da Administração Interna Fernando Gomes «retirou todas as consequências políticas» do caso da FPS e «já não será embaixador de Portugal na OCDE».
Guterres voltou a traçar um paralelo entre a posição assumida pelo actual ministro da Administração Interna, Severiano Teixeira, que pediu uma investigação à PGR e à IGAI, e a de Fernando Gomes, que nada fez, apesar das dúvidas que a FPS lhe suscitou.
Classificando a sua intervenção como «o direito de um inocente à verdade», o chefe do Governo disse ter passado quarta-feira «um dos piores dias» da sua vida.
António Guterres voltou a confirmar que Fernando Gomes falou consigo. Adiantou, contudo, que Gomes falou também com Coelho e com Vara sobre a Fundação.
A sua resposta ao então ministro da Administração Interna, resumiu-a em duas palavras: «verdade e transparência». E mais, Guterres revelou que Gomes se encontrou com o então ministro da Presidência Jorge Coelho - sentado à sua direita no Parlamento - e que este recomendou uma investigação de uma entidade independente. Gomes nada fez.
Guterres revelou ter interpelado Armando Vara, que o sossegou, afirmando-se «de consciência tranquila» e garantindo que não havia qualquer problema com a Fundação.
Segundo o chefe do Governo, Armando Vara chegou mesmo a telefonar a Fernando Gomes e a pedir para que se «investigasse tudo», porque «não queria o seu bom nome posto em causa».
Gomes vai dizer que não quis prejudicar PM
Fernando Gomes vai hoje reafirmar as suas declarações à Comissão Parlamentar dos Assuntos Constitucionais, referindo que «nunca pretendeu atingir o primeiro-ministro» com a polémica da Fundação para Prevenção e Segurança.
A Lusa apurou, junto de fonte próxima do ex-ministro da Administração Interna, que na declaração que irá fazer às 18h30, na sessão de abertura oficial do Museu dos Transportes do Porto, Gomes reafirmará tudo quanto disse ontem «em nome da verdade, princípio que sempre pautou as suas acções enquanto autarca e politico».
A fonte acrescentou que o ex-ministro irá dizer mais logo que «disse apenas a verdade sobre o que se passou» e que «não teve quaisquer segundas intenções».