António Guterres quebrou, esta quinta-feira, o silêncio numa análise à situação política portuguesa. O ex primeiro-ministro acusou o poder político de não resistir à tentação de manipular os órgãos de comunicação social, deixando para segundo plano o debate dos problemas essenciais do país.
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Ao fim de três anos, António Guterres quebrou hoje o silêncio, numa análise à situação política nacional, durante o I Congresso sobre a Democracia Portuguesa, a decorrer em Lisboa .
Segundo o antigo primeiro-ministro, o poder político não consegue resistir à tentação de manipular os órgãos de comunicação social, deixando, deste modo, para segundo plano o debate dos problemas essenciais do país.
Dste modo, António Guterres considera que a política portuguesa está cada vez mais parecida com um «no stop reality show».
«O que me preocupa é que, com uma promiscuidade crescente entre o poder político e até o poder judicial e os media, a expressão pública da vida política portuguesa se pareça cada vez mais com um permanente "reality show", ofuscando o debate das questões essenciais», acusou Guterres.
Escusando-se a ver nas suas declarações um ataque à comunicação social, Guterres disse que «o problema está, sobretudo, na atitude dos próprios responsáveis do poder político que sucumbem àquela promiscuidade e à tentativa de manipular os media sem perceberem que acabarão por ser destruídos por eles».
Ainda assim, sublinhou que «não é caso para desespero», acrescentando que - «reconhecendo os riscos da situação presente»- é dos que acredita que «ela não impedirá a afirmação crescente de uma alternativa que, apostando no conhecimento, inovação e iniciativa, possa estabelecer com os portugueses um projecto mobilizador e ajudar a reconciliá-los em pleno com a vida política democrática.»
Guterres lamenta marginalização
O antigo líder socialista lamentou, ainda, os caminhos que estão a ser seguidos cada vez mais no sentido de marginalização, apontando alguns problemas que estão a ser esquecidos.
Entre eles estão, segundo Guterres, a baixa qualificação média da pupulação activa, a fraca capacidade científica e tecnológica, os persistentes entraves da herança napoleónica, centralista e burocrática da administração e o escasso dinamismo da sociedade civil.
Estes problemas seriam ainda mais graves se Portugal não estivesse integrado na União Europeia, remata Guterres.