O Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) recomendou, quinta-feira, restrições aos tratamentos hormonais utilizados na menopausa para prevenir a osteoporose nas mulheres. Os médicos não estão de acordo.
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A autoridade portuguesa que fiscaliza os medicamentos, Infarmed, acaba de seguir recomendações europeias relativamente aos tratamentos hormonais utilizados na menopausa, relacionando-o com o aumento dos riscos de cancro da mama e problemas do coração com a terapêutica hormonal.
As autoridades europeias reguladoras de medicamentos concluíram que os riscos do tratamento hormonal são maiores que os benefícios. A terapêutica hormonal de substituição não deve ser escolhida como primeira hipótese.
Infarmed «precipitou-se»
O médico Albino Aroso, presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose, em declarações à TSF, disse estar convencido que os tratamentos hormonais continuam a ter vantagens se forem administrados moderadamente, e falou mesmo em «precipitação» do Infarmed.
«Há uma fase da mulher, no início da menopausa, em que as perturbações emocionais e físicas são muito intensas e beneficiam extraordinariamente com a terapêutica hormonal de substituição que tem outros benefícios como a diminuição do risco do cancro de cólon», afirmou Albino Aroso.
«Foi um pouco precipitado, sem haver a audição de pessoas que pensam de forma diferente», acrescentou o médico.
«Não há melhor tratamento»
A Sociedade Internacional de Menopausa esteve reunida nos últimos três dias na Áustria a avaliar esta questão e chegou à conclusão que não há melhor tratamento para a mulher que a terapêutica hormonal de substituição.
Manuel Neves e Castro, presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Menopausa, afirmou que o tratamento pode mesmo prevenir doenças cardiovasculares.
«Não há melhor tratamento durante os primeiros dez anos após a menopausa para melhorar a qualidade de vida, alívio dos sintomas e inclusivamente com a capacidade de ser preventivo de doenças cardiovasculares e de osteoporose. Não há fundamento para essas noticias alarmistas», sublinhou Manuel Neves e Castro.
O presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Menopausa garantiu, até, que os riscos de cancro da mama invocados pelas autoridades europeias de saúde não fazem qualquer sentido.
Última palavra é dos médicos
O presidente da Infarmed, Rui Santos Ivo, afirmou que o processo de avaliação dos riscos da terapia hormonal não é um processo fechado.
«O processo de avaliação não termina aqui, continua como é nossa obrigação enquanto autoridade do medicamento e também entrando numa fase em que se irão auscultar e solicitar às empresas que comercializam estes medicamentos no sentido delas próprias serem ouvidas neste processo», disse Santos Ivo.
O presidente do Infarmed esclareceu que esta recomendação foi decidida «numa reunião dos Quinze países, entendemos que seria justificado que esta recomendação fosse transmitida de imediato aos profissionais de saúde dando-lhes a liberdade de a ponderarem nas suas decisões».
Rui Santos Ivo lembrou que a recomendação do Infarmed é para aplicação da terapia hormonal com cautelas, admitindo que a última palavra, sobre o tratamento das mulheres na menopausa com hormonas, pertence aos médicos.
A osteoporose (descalcificação dos ossos) é precisamente uma consequência da menopausa, resultando da diminuição da produção dos estrogeneos que ocorre nas mulheres a partir dos 50 anos.