João Aguiar é homenageado, na quarta-feira, dia 24 de Novembro, por uma carreira de 20 anos dedicada aos livros. O escritor mantém-se atento ao jornalismo, do qual fez profissão, e defende «uma retaguarda de veteranos numa vanguarda de jovens» para as redacções portuguesas.
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O jornalista e escritor lamenta, em entrevista à agência Lusa, que se tenha desfeito o equilíbrio entre sexos e de idades, e sublinha que a falta de seniores nas redacções o que conduz, em muitos casos, a uma «falta de memória» e a um deficiente «conhecimento da língua».
O escritor critica também o sensacionalismo a que se assiste na televisão, onde «o serviço noticioso chega a confundir-se com o espectáculo», João Aguiar, com passagens pelo jornalismo escrito, radiofónico e televisivo, ressalvou, no entanto, que existem «jornalistas, e jovens jornalistas muito bons».
O escritor - que no seu livro «O Homem sem Nome» refere uma ordem mendicante, a dos divulgadores, com irónicas semelhanças aos jornalistas - lamentou ainda a situação em que se encontram muitos estagiários, que «trabalham como profissionais» mas sem vencimento.
Embora neste momento apenas se encontre a exercer como cronista, João Aguiar que, «se se proporcionar», pode regressar à vertente mais pura e dura do ofício, uma vez que, na sua óptica, não é o jornalismo que está em crise mas «a sociedade em bloco».
Tendo-se estreado no «Telejornal» da RTP1 com 19 anos e trabalhado em rádios de Angola, João Aguiar passou por A Luta, Diário Popular, Diário de Notícias e Sábado, entre outros órgãos, mas há alguns anos preferiu abrandar o ritmo jornalístico para se dedicar à literatura.
«Gosto e preciso de escrever ficção. A escrita foi o melhor meio que encontrei para comunicar, para entrar em contacto com o meu próximo», considera o escritor na véspera das edições Asa o homenagearem pelos 20 anos de vida literária com um almoço no Hotel Altis, em Lisboa.
Autor de livros para adultos e para jovens, João Aguiar não explicita uma preferência de público mas revela que escrever obras juvenis «é muito mais exigente», na medida em que obriga «a um cuidado com a linguagem ainda maior» e «a uma responsabilidade ética ao nível da história».
João Aguiar nasceu em Lisboa em 1943, licenciou-se em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas, escreveu guiões para programas de televisão e argumentos para cinema («Rua Sésamo», «Inês de Portugal», por exemplo) e iniciou a carreira literária com «A Voz dos Deuses» (1984).
Em 2005, João Aguiar vai lançar «O Tigre Sentado», romance-folhetim já publicado em fascículos no jornal «Ponto Final», de Macau, e que ganhará assim o formato de livro, e uma outra obra romanesca acerca da qual o escritor prefere manter o «suspense».