Judeus e palestinianos, separados por um conflito sem solução à vista, partilharam um pacote genético quase idêntico na pré-história, segundo um estudo da Universidade Hebreia de Jerusalém.
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Cerca de dois terços dos árabes residentes no Estado de Israel e em Gaza e na Cisjordânia, bem como idêntica proporção de judeus do país, são descendentes directos de pelo menos três antepassados pré-históricos comuns, que viveram na zona no Período Neolítico, há oito mil anos.
Esta é uma das conclusões a que chegou uma equipa internacional de investigação dirigida por Ariela Oppenheim, geneticista e hematologista da Universidade Hebreia de Jerusalém, em colaboração com especialistas do Hospital Hadasa de Jerusalém.
Os cientistas estudaram a história genética dos povos judeu e árabe através das mudanças que se produzem no cromossoma Y, que determina o gene sexual e passa de pais para filhos.
Em princípio, todos os seres humanos têm a mesma sequência de ácido desoxirribonucleico (ADN) no seu cromossoma Y.
No ADN produzem-se mutações a uma cadência mais ou menos constante, pelo que se pode considerar o cromossoma Y um «relógio» excelente para medir acontecimentos do passado.
Se se compararem os cromossomas Y de dois grupos étnicos, como palestinianos e judeus, pode-se saber quando viveram os seus antepassados graças às diferenças que existem entre os referidos cromossomas.
Segundo Ariela Oppenheim, os resultados do estudo «coincidem com documentos históricos segundo os quais os palestinianos são descendentes de uma população antiga, grande parte da qual era constituída por judeus que se converteram ao Islão quando este chegou à antiga terra de Israel, no século VII d.C».
O estudo revela que o cromossoma Y dos judeus e o dos palestinianos que são cidadãos de Israel, bem como o dos que vivem em Gaza e na Cisjordânia, são tão semelhantes que mal podem ser distinguidos.
Oppenheim e os seus colegas estudaram 134 palestinianos e 119 judeus ashkenazíes - provenientes da Europa central e de leste - e sefarditas - de origem espanhola e do mundo árabe -, num trabalho que apurou que possuíam um antepassado pré-histórico comum.
O estudo mostra que, na sua árvore genealógica, árabes e judeus provêm de um dos três troncos pré-históricos principais e que, na actualidade, têm impressos no cromossoma Y os sinais de identidade de um antepassado comum que viveu na antiga terra de Israel há milhares de anos.
A genética revela também os movimentos migratórios do homem moderno, que surgiu em África há cerca de 150.000 anos e que, daí, emigrou para todo o Mundo através do Médio Oriente.
O estudo genético permitiu comprovar que cerca de dois terços dos árabes e judeus têm um antepassado comum, originário do sul da África e que emigrou há cem mil anos para o que se transformaria depois na «Terra Prometida».
Perto de 20 por cento dos judeus e palestinianos analisados são descendentes de um outro antepassado comum, muito mais jovem e proveniente da África sub-saariana, enquanto os restantes 15 por cento pertence a um tronco comum originário da Ásia central que emigrou para o Médio Oriente.
Os investigadores surpreenderam-se ao descobrir que, em determinadas povoações palestinianos, surgem numerosas semelhanças genéticas entre os habitantes, existindo mesmo traços que se repetem com uma frequência relativamente elevada.
Os investigadores descobriram que uma doença genética sanguínea conhecida como talasemia - cujos sintomas vão desde a falta de ferro até problemas infecciosos, traumáticos e renais - surge entre os palestinianos da Cisjordânia numa proporção muito elevada - cerca de 50 por cento.
Isso indica que os palestinianos da Cisjordânia vivem nessa zona há muito tempo e constituem uma sociedade bastante endogâmica e geneticamente distinta da dos palestinianos da Galileia (entre os quais há 10 por cento de probabilidades de padecer de talasemia) ou de Gaza (15 por cento).
Além disso, apurou-se que cerca de um terço dos palestinianos e um outro terço dos judeus sefarditas pertencem a um mesmo tronco, que os investigadores apelidam de «árabe» e cuja origem se desconhece, mas se pensa que se terá separado há milhares de anos do tronco principal «judeu-palestiniano».