Na Guiné-Bissau, o primeiro-ministro e os juízes do Supremo Tribunal estão em conflito aberto. O chefe do governo tinha lançado o convite à demissão dos juízes que por sua vez respondem hoje num comunicado, acusando Gomes Júnior de não ter capacidades para as funções que ocupa.
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O Comunicado dos juízes afirma que «o poder judicial independente é fundamental para o Estado de direito democrático».
E se o primeiro-ministro é «incompatível com este fundamento e despudoradamente verborreia em público», então isso só revela que Gomes Júnior não tem dignidade para assumir a responsabilidade do cargo que ocupa.
Diz o comunicado que o primeiro-ministro, que contestou os resultados das eleições legislativas das quais Nino Vieira saiu vencedor - é por isso inábil para o exercício da função pública.
De acordo com os juízes do Supremo, as atitudes do chefe de governo em relação ao poder judicial denotam uma franca colisão entre Gomes Júnior e a república ao pôr em causa a decisão do Tribunal, que validou os resultados das eleições.
Os juízes acusam o primeiro-ministro de querer que «a justiça ande a reboque das conveniências políticas e pessoais». E salientam que esta não é a função do tribunal.
Mais à frente, o comunicado alerta ainda para o «perigo que Gomes Júnior representa para a desejável consolidação das instituições democráticas na Guiné-Bissau».
Os magistrados afirmam ainda que o primeiro-ministro e Malam Bacai Sanhá (candidato do Governo derrotado por Nino Vieira nas presidenciais) se intrometeram de forma ilegítima e grotesca no campo da independência dos tribunais.
Por tudo isto, o comunicado conclui que o comportamento de Gomes Júnior em relação ao Supremo Tribunal tem «laivos de tentativa de golpe de Estado» ou de uma «concepção totalitária do funcionamento de uma república».