A artista norte-americana Laurie Anderson, que actua Sábado no segundo dia do Festival "Música no Castelo", em Montemor-o-Velho, é a responsável pela estreia absoluta em Portugal dos russos Chirgilchin, um grupo de "cantores de garganta".
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Oriundos da república russa de Tuva, um território de pouco mais de 200 mil habitantes, encravado entre a Mongólia e a Sibéria, os 'throat singers' (cantores de garganta, em tradução literal) Chirgilchin praticam uma forma de canto tradicional composta por várias tonalidades vocais.
«Foram sugeridos pela própria Laurie Anderson. Vão abrir a segunda noite (Sábado, 15 de Julho) e, em seguida, participar em alguns temas do concerto dela», disse à Agência Lusa Pedro Corte-Real, da organização do festival.
Além de produzirem os seus próprios instrumentos, os Chirgilchin praticam seis variantes diferentes de 'throat singing', uma técnica considerada «extraordinária» num artigo publicado em 1999 pela revista "Scientific American".
O estudo afirma que um único vocalista consegue produzir dois tons distintos em simultâneo.
Segundo a investigação norte-americana, um dos tons é baixo, similar a um som produzido no "arranque" de uma gaita-de-foles, enquanto o segundo, mais alto e harmonioso, consegue assemelhar-se a tonalidades sonoras encontradas na Natureza, desde o canto dos pássaros, ao vento, a um ribeiro de montanha ou ao galope de um cavalo.
A ancestral tradição musical de Tuva está, aliás, intimamente ligada a uma crença de que os objectos e fenómenos naturais possuem alma ou são habitados por espíritos.
A publicação científica considera que o 'throat singing' é muito difícil de explicar por palavras, sendo necessário «ouvir para acreditar».
Frisa ainda a Scientific American que a "canção de garganta" de Tuva e de outras zonas da Ásia Central é tão natural para os povos locais como falar, não sendo ensinada formalmente, antes assemelhando-se a uma linguagem.
Os Chirgilchin são precisamente constituídos por uma mulher e três homens, entre os quais Aldar Tamdyn, director da Orquestra Nacional de Instrumentos Tradicionais de Tuva e responsável pela construção de todos os instrumentos utilizados pelo agrupamento russo, os quais incorporam pelo de cavalo no seu processo de fabrico.
Actuam Sábado, pelas 22:00, em Montemor-o-Velho, na segunda noite do festival "Música no Castelo", precedendo a apresentação, um hora mais tarde, da nova-iorquina Laurie Anderson, violinista, cantora e compositora que se fará acompanhar pela sua banda.
Do primeiro do festival, sexta-feira, consta a actuação do brasileiro Lenine, que vem a Portugal apresentar o seu último trabalho, "Lenine incite", gravado ao vivo na Cité da la Musique, em Paris.
O projecto africano Antibalas Afrobeat Orchestra e o sexteto portuense Tchakare Kanyembe, liderado por um moçambicano e cujo nome vai buscar inspiração a dois instrumentos tradicionais daquele país, completam o cartaz do dia inaugural do evento.
Além dos concertos principais, no palco 2 decorrerão espectáculos de animação electrónica a cargo dos Micro Áudio Waves, DJ Morpheus, Marcos Cruz e Rui Murka.