Os criadores e produtores de bovinos portugueses consideram que o levantamento do embargo à carne nacional vem tarde. O bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários afirma, por seu lado, que a carne «ainda não é suficientemente segura para ser exportada».
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Os criadores e produtores de bovinos portugueses consideram que o levantamento do embargo à carne nacional «vem tarde, pois a injustiça já está feita».
Entretanto, o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Cardoso Resende, diz que a carne bovina portuguesa «ainda não é suficientemente segura para ser exportada».
A Comissão Europeia vai propor este mês ao Comité Veterinário Permanente da União Europeia que o levantamento do embargo à carne bovina portuguesa ocorra o mais tardar em Julho de 2001.
Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Nacional de Engordadores de Bovinos(ANEB), Rodrigues da Silva, disse que o levantamento do embargo é tardio, porque «a injustiça já está feita e Portugal já sofreu com essa injustiça».
Considerando que «o embargo nunca deveria ter acontecido», Rodrigues da Silva afirma que Portugal «sofreu com essa penalização injusta», já que, segundo o presidente da ANEB, «tem havido uma redução drástica do consumo de carne bovina».
Rodrigues da Silva criticou a actuação da Comissão Europeia por «só agora» adoptar medidas de segurança relativamente à BSE, que Portugal já tomou há dois anos.
O presidente da ANEB referia-se à proposta apresentada na passada segunda-feira pela Comissão Europeia de interditar por seis meses, nos estados-membros da UE, o uso de farinhas de carne e osso na alimentação de todos os animais de criação.
«Sabendo que Portugal adopta medidas extremas de segurança, que moral tem a UE de impor um embargo à carne nacional?», questionou Rodrigues da Silva, acrescentando que «chegou a altura de se afirmar que essa imposição foi um contra-senso».
«Carne ainda não é segura para ser exportada»
Em declarações à Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Cardoso Resende disse ter muitas dúvidas em relação aos benefícios práticos do possível levantamento do embargo à carne portuguesa.
Para Cardoso Resende, «se o levantamento do embargo acontecer será apenas uma medida de prestígio para o país, mas sem benefícios práticos».
O bastonário acredita que o embargo só será levantado mediante a imposição de determinadas medidas. É o caso do controlo absoluto da carne a exportar, a realização de abates de animais em determinados matadouros e a condição de os animais para exportação serem oriundos de explorações sem casos anteriores de BSE.
«Tenho muita dificuldade em garantir a segurança aos consumidores em relação à carne bovina portuguesa», admitiu Cardoso Resende, acrescentando ainda que Portugal carece de um sistema eficaz de controlo e vigilância da carne.
O bastonário adiantou também que «o conhecimento que temos do circuito dos bovinos e da carne é muito insuficiente, logo a função essencial do Estado nesta matéria não está a ser cumprida. O Estado tem o dever de garantir a segurança dos consumidores».
Cardoso Resende sublinhou que o levantamento do embargo «sem a imposição de medidas rígidas» é pouco provável, já que Portugal ainda não tem menos de cem casos positivos de BSE por milhão de bovinos.