Mo Mowlam, antiga ministra do governo de Tony Blair e artesã do acordo que serviu de base ao processo de paz para a Irlanda do Norte, morreu esta sexta-feira, devido a doença prolongada. O primeiro-ministro britânico considerou-a uma das personalidades políticas mais importantes da actualidade.
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Mo Mowlam, a antiga ministra britânica para a Irlanda do Norte e que contribuiu de froma decisiva para a concretização do acordo de paz de Sexta-feira Santa na Irlanda do Norte (1998) e que serviu de base ao porcesso de paz para a região, morreu esta sexta-feira num hospital do Sudeste de Inglaterra aos 55 anos.
Mowlam, que sofria de tumor cerebral há vários anos, morreu às 08:10 no centro oncológico Pilgrim Hospice, na cidade de Canterbury, no condado de Kent, na companhia do marido, Jon Norton.
A saúde da ex-ministra deteriorou-se nos últimos tempos mas o diagnóstico de tumor cerebral em 1997 não a impediu de exercer o cargo de ministra para a Irlanda do Norte no primeiro mandato de Tony Blair.
Os tratamentos de radioterapia afectaram o seu equilíbrio e, no início deste mês, sofreu uma queda que a deixou inconsciente, não voltando a recuperar.
A ex-governante foi transferida há duas semanas para Pilgrim Hospice e desde há alguns dias que deixou de ser alimentada, cumprindo-se assim a vontade que manifestou de não ser mantida viva, caso o seu estado de saúde piorasse.
Mowlan era uma das personalidades políticas britânicas mais populares pela sua franqueza, pela coragem que demonstrou na luta contra o tumor e pelo seu papel no processo de paz da Irlanda do Norte.
A ex-ministra conseguiu juntar unionistas e republicanos para negociações, que culminaram com o histórico acordo de paz de Sexta-feira Santa, em 1998, que levou à partilha de poderes na Irlanda do Norte.
Incompatibilidades com Tony Blair
Militante do Partido Trabalhista desde 1969, dedicou os últimos anos a uma campanha contra a guerra no Iraque e a criticar a política "presidencialista" de Blair, com quem se incompatibilizou.
Nas suas memórias, publicadas em 2002, Mowlam afirmou que saiu do governo porque alguns conselheiros de Blair espalharam o rumor de que a sua doença a tinha deixado incapacitada intelectualmente.
«O meu estado de saúde foi usado contra mim através de uma campanha de rumores», disse num documentário do Channel 4. «Foi um comportamento imoral, violento e terrível das pessoas que o fizeram. Alguns podem dizer que é política. Eu penso que é desprezível», afirmou.
Na altura, estas acusações foram negadas pelo gabinete do primeiro-ministro britânico.
Nas suas memórias, Mowlam refere que a campanha contra si foi intensificada depois de ter recusado o pedido de Blair para se candidatar à presidência do município de Londres.
A ex-ministra acusou ainda o primeiro-ministro britânico de ser muito controlador, de não confiar nos seus colaboradores e de ignorar a opinião de todos os que discordam dele.
Antes de deixar a política, em 2001, Mo Mowlam foi escolhida pelo público, numa sondagem, como a escolha mais provável para suceder a Tony Blair no cargo de primeiro-ministro.
Apesar do azedar de relações, ao ter conhecimento da morte da antiga ministra, Tony Blair reconheceu em Mo Mowlam «uma das figuras políticas mais remarcáveis» da história britânica e saudou o trabalho desempenhado no processo de paz na Irlanda do Norte.