O cantor Raul Indipwo faleceu, aos 72 anos, vítima de doença prolongada. O músico, natural de Angola, notabilizou-se ao integrar o grupo Duo Ouro Negro com Milo MacMahon, cantor que faleceu no final na década de 80.
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O cantor Raul Indipwo morreu, este domingo, aos 72 anos de idade, num hospital do Barreiro, vítima de «doença prolongada», após uma carreira de longos anos quer na música, quer na pintura.
Natural de Angola e há muitos anos residente em Portugal, Raul José Aires Corte Peres Cruz formou o Duo Ouro Negro, em 1959, com o também já falecido Milo MacMahon.
Após uma apresentação no Cinema Roma, em Lisboa, e um regresso a Angola, o Duo Ouro Negro começou a ter uma expressão internacional, com actuações no espaço de um ano na Suíça, França, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Espanha e Portugal.
Em Lisboa, a seguir ao êxito dos primeiros discos, o grupo começa a ter bastante sucesso, com actuações em programas televisivos e radiofónicos, lançando mesmo, em 1965, o kwela (uma dança ritual africana), que seria considerado o ritmo de Verão do ano.
No ano seguinte actuam no Olympia e no Alhambra, em Paris, actuando mesmo em 1967 na Sala Garnier da Ópera de Monte Carlo para os Príncipes do Mónaco, ano em que também somam mais actuações no Olympia e também no Brasil.
Em 1968, conquistam o Canadá e os Estados Unidos, chegando mesmo a actuar no Waldorf Astoria, um dos hotéis mais conhecidos de Nova Iorque.
Mais tarde, o grupo teve ainda a oportunidade de actuar na América Latina e no Japão, passando depois o duo, nos anos 70, pela Alemanha, Estados Unidos, Austrália e França.
Com a morte de Milo MacMahon, no final da década de 80, a carreira do Duo Negro, que se notabilizou com músicas como «Maria Rita» ou «Vou Levar-te Comigo», termina.
Em declarações à TSF, Luís Represas, admirador e amigo do cantor, recordou o fascinio que o grupo de Raul Indipwo e Milo MacMahon lhe causava.
«Era uma identidade musical fascinante e foi todo esse trabalho fascinante ao longo do tempo que eles fizeram, de trazer a cultura africana e angolana para Portugal, numa altura extremamente difícil, que os fizeram ficar na primeira fila», explicou.
O jornalista Baptista-Bastos recordou a pintura «nostálgica» de Raul Indipwo. «Era uma pintura da memória e simultaneamente tem a ver com a própria cultura africana, onde as coisas não surgem manicaísticamente», acrescentou.