Quarenta jovens portugueses e estrangeiros vão pintar no próximo fim-de-semana o muro de uma antiga fábrica de cortiça no Seixal para mostrar que o "graffiti", vulgarmente associado a actos de vandalismo, é também arte.
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A iniciativa, que arranca sábado às 10:00, promovida por duas associações juvenis do concelho, com o apoio da autarquia, insere-se na 3ª edição do Seixal Graffiti, onde são esperados 6.000 visitantes.
«Pelo número de artistas participantes e pela dimensão do muro que se vai pintar, é o maior e o mais internacional festival do género que se realiza em Portugal», disse à Agencia Lusa Gonçalo Ribeiro, um dos poucos profissionais que se dedicam à pintura de "graffiti".
«A última edição foi em 2002 e correu muito bem. Este ano esperamos ainda mais gente», acrescentou.
Ao longo de dois dias, 30 "writers" (artistas que pintam "graffiti") portugueses e dez estrangeiros (polacos, espanhóis e ingleses) vão pintar o muro com cerca de 250 metros da antiga fábrica de cortiça Mundet, no Seixal, hoje património municipal.
Como em anos anteriores, as pinturas vão manter-se até à edição seguinte do Seixal Graffiti, altura em que o "wall of fame" (que na gíria do "graffiti" significa muro de grandes dimensões pintado com uma sequência de desenhos) ganhará novas cores.
Durante a execução do trabalho haverá animação musical com bandas hip-hop, hardcore, reggae e DJ e actividades com skate.
«As pessoas continuam a achar que o 'graffiti' é coisa de miúdos, uns gatafunhos, vandalismo, mas define-se como arte urbana de rua", frisou à Agência Lusa Décio Ramos, da organização do evento.
O "graffiti" nasceu no bairro nova-iorquino do Bronx, na década de 1970, como forma de afirmação social de uma camada jovem pobre, que pintava fachadas de prédios, muros ou carruagens de metro e comboios com tintas de "spray".
A moda chegou a Portugal no fim dos anos 1980 pelas mãos de franceses, conforme relatou à Lusa Gonçalo Ribeiro.
Formado em "design", o jovem, de 31 anos, pinta há nove. Os seus trabalhos estão espalhados um pouco por todo o país, em Espanha e França.
São visíveis em recintos escolares e de saúde, mercados, ruas, escadarias, prédios e até em quartos de habitações particulares.
O jovem organiza também acções de sensibilização nas escolas e executa trabalhos gráficos para uma marca de vestuário.
«O 'graffiti' não é só vandalizar. Para mim, é e sempre foi arte, arte na rua, em que a rua é como uma galeria", afirmou, acrescentando que, mesmo quando pinta sobre tela, esta funciona como se fosse um pedaço de parede.
As fábricas abandonadas continuam a ser o seu local de eleição para pintar.
Pintar paredes sai caro. "Cada lata de ´spray' custa 3,5 euros e só dá para preencher um metro quadrado", refere Gonçalo Ribeiro.
O "writer" considera que a técnica do "graffiti" começa a ser mais aceite em Portugal e acredita que um dia poderá constar nos manuais de História de Arte e ser leccionada como disciplina curricular nas escolas superiores.
«O "graffiti" é a arte do século XXI», sustenta.
«Portugal está bem posicionado na Europa em termos de qualidade de trabalhos. Mas temos um atraso de 20 anos", salienta Gonçalo Ribeiro, lembrando que no país ainda se realizam poucos eventos do género do Seixal Graffiti.
O "roteiro" do "graffiti" no concelho já inclui o Centro de Saúde da Amora, o Mercado da Cruz de Pau, duas rotundas e algumas exposições em espaços juvenis.