O mergulhador português Nuno Gomes liderou uma expedição na costa sul-africana cujo objectivo era encontrar celacantos, que se crê serem os mais antigos seres vivos na Terra. O português entrou este ano para o Guiness depois de ter atingido o fundo de uma gruta a 282,6 metros da superfície.
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Lisboeta de 49 anos, radicado desde 1968 na África do Sul, Nuno Gomes foi convidado para chefiar a expedição na Baía de Sodwana, depois da morte de dois mergulhadores na fase preparatória da expedição.
Os celacantos são teleósteos considerados autênticos fósseis vivos. Têm mais de 300 milhões de anos, e foram dados como extintos junto com os dinossáurios, até que um arrastão levou um exemplar até à costa de East London, no ano de 1938.
A curiosidade sobre este estranho peixe, que se crê ser o elo perdido entre os vertebrados terrestres e as criaturas marinhas, continuou até aos nossos dias, tendo-se realizado já várias expedições que identificaram várias colónias de celacantos, nomedamente na costa indonésia, Comores e em Madagáscar. A zona de celecantos foi alargada em Novembro de 2000 até à reserva ecológica de Sodwana, próximo do litoral moçambicano.
Aventura em Sodwana
A primeira vez que um ser humano viu um celacanto no seu habitat natural, sem recurso a submergíveis, foi quando Pieter Venter, advogado sul-africano de 30 anos, encontrou um por acaso nas águas da Baía de Sodwana. Venter convidou Nuno Gomes para liderar a expedição, convite aceite pelo português, reconhecido como um dos maiores especialistas mundais em mergulho em «trimix» (combinação de hélio, nitrogénio e oxigénio).
Venter tentou fazer a filmagem directa dos celacantos no seu «habitat», mas os riscos destes mergulhos são consideráveis, e houve vítimas fatais logo no princípio das operações. Falou-se mesmo em «maldição dos celacantos». Para quebrar as superstições, Nuno Gomes entrou em acção a convite de Venter, e durante dois meses estudou as condições de mergulho a fundo, antes de abrir as «hostilidades».
Depois de ensaios numa mina abandonada perto de Vereeniging, e de algumas «baldas» dos celacantos, que faltaram a uns «rendez-vous» com os mergulhadores, o momento tão aguardado tardava, mas a insistência da equipa iria dar os seus frutos.
Mergulhos ao encontro de um celecanto
A caverna onde um celacanto no tinha sido avistado por Venter, em Novembro, já estava desocupada. Nuno Gomes dá então ordens para mergulharem na mesma direcção mas a 115 metros de profundidade, em vez de 100 metros, como até então. Depois de uma série de falhas, Venter corrigiu o ponto de descida, só faltava aproveitar os quinze minutos que são o limite para permenecer abaixo dos 115 metros.
O sul-africano passou pela caverna-alvo, sem sucesso, e escolheu mergulhar numa cavidade, depois de dobrar um rebordo poroso encontrou um celecanto de metro e meio. Gomes e Venter só se encontrariam mais tarde, já que estavam ambos retidos em descompressão submarina.
As imagens captadas por Venter estão disponíveis na internet (mas é preciso pagar para poder utilizá-las), no site da WorldStream.
Este mergulho realizou-se segunda-feira, dia 14 de Maio. A equipa continua nas águas da Baía de Sodwana.