«O Livro de Agustina Bessa-Luís» é lançado esta sexta-feira no Almada Fórum. «Um lugar em que a romancista se funde no seu romance e onde as imagens da sua vida parecem um filme».
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Uma carta de Teixeira de Pascoaes, um postal de Vieira da Silva ou um desenho de Mário Botas são algumas das surpresas que desfilam entre as cerca de cem fotografias desta autofotobiografia, dada à estampa pela Três Sinais Editores, é lançada, com a presença da autora, sexta-feira, na FNAC do recém-inaugurado Almada Fórum, constituindo o acto de primeiro dia de abertura da livraria.
A primeira edição desta autofotobiografia, que surge três dias depois de Agustina Bessa-Luís ter celebrado 80 anos de vida e mais de meio século dedicado à escrita, é de tiragem limitada e todos os exemplares são numerados e assinados pela escritora.
A editora não esconde um arroubo de vaidade ao anunciar este livro como «um lugar em que a romancista se funde no seu romance e onde as imagens da sua vida parecem um filme» e destaca ainda «as singulares legendas criadas pela escritora para acompanhar as fotografias».
Ao longo de 160 páginas, a autora de «A Sibila» revela memórias e apresenta aos leitores a sua família mais próxima, recorrendo quer a fotos do espólio familiar, quer a trabalhos assinados pela fotógrafa Luísa Ferreira.
A foto mais antiga, com os pais e avós de Agustina, data do século XIX, enquanto a mais recente mostra a escritora em Itália, sendo todas as imagens acompanhadas por comentários, ora inocentes, ora caricatos, mas sempre descritivos das pessoas como se de personagens de um romance se tratassem.
Além de revelar o pai como «o brasileiro, com os fatos de seda crua e o chapéu de Panamá», um homem «conhecedor do mundo e feliz», ou contar que o marido «ficava rico na Queima [das Fitas de Coimbra], a fazer as caricaturas para os livros dos quartanistas», a escritora explica também como nasceu a sua paixão pelos livros e pela leitura.
«Ser irmã de um único irmão é muito solitário, mas também favorável a imaginações, diálogos interiores, sonhos e descobertas. Desde muito cedo eu descobria a minha companhia nos livros. Quando aprendi a ler, no mundo fez-se luz e passei a compreender tudo» - conta Agustina Bessa-Luís.
Também nesta autofotobiografia ficamos a saber que, aos dezanove anos, «duvidosa quanto à veia literária», Agustina procurou iniciar-se na pintura, opção que não vingou: «O Mestre, o pintor Cremez, mandava-me desenhar pés de gesso, o que me aborrecia (...) e distraía-me com pensamentos vagos e flutuantes».
O episódio teve lugar no Porto, mas Amarante, região próxima, que a viu nascer, também lhe merece palavras na nova obra: «São lugares de misteriosa convivência, onde tudo se aprende e pouco se condena. Há um sentimento comunitário de perdão e de culpa que se estendem um ao outro. Tudo acontecia como se tivesse sido precedido de um aviso».
Descrevendo os locais, o carácter das pessoas de família, o tipo de abordagem entre os casais, a autora revela não só um mundo familiar muito próprio como mostra os principais traços de uma época dominada por outros usos e costumes e que, não raramente, relegava a mulher para um lugar secundário.
O livro «Azul»
Além desta autofotobiografia, a escritora que em 1984 arrebatou o grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores com o romance «Os Meninos de Ouro», e considerada uma das mais prolixas autoras portuguesas contemporâneas, lança a 23 de Outubro o livro «Azul», um álbum com textos da sua autoria e fotos de Luísa Ferreira que revela o encontro de duas mulheres viajantes e os seus percursos paralelos.