Carlos Baptista é apenas um dos 4700 feridos graves que as estradas nacionais apresentam todos os anos. No dia 23 de Março, um despiste de automóvel deixou-o paraplégico. O seu principal objectivo, agora, é voltar a andar.
Corpo do artigo
Eram 13:00. Carlos ia a Cascais, «passear um bocadinho», com o irmão, um primo e um amigo. Meteram-se no carro mas não chegaram ao destino. Uma ultrapassagem, uma distância mal calculada e o automóvel despistou-se.
«Quando acordei do acidente, lembro-me de pensar que estava num sonho. O que me passou logo pela cabeça foi que eles podiam estar mortos, e a minha grande felicidade, na altura, foi ouvir a voz do meu irmão», disse Carlos à TSF Online, no Centro de Medicina Física e de Reabilitação de Alcoitão, onde se encontra há um mês.
Carlos Baptista é apenas um dos 4700 feridos graves que todos os anos ocorrem nas estradas portuguesas. Está há sete meses numa cadeira de rodas, mas os médicos dizem que pode voltar a andar.
Apesar da lesão da medula, que no acidente ficou esmagada, o jovem técnico da Sumol dá-se feliz por não estar entre as 1500 vítimas mortais que as estatísticas apresentam anualmente. Um recorde nacional no território dos Quinze.
Custos humanos e materiais
No ano 2000, Organização Mundial de Saúde (OMS) contou 1,26 milhões de mortos em todo o mundo em acidentes de viação. Vítimas que são lembradas no âmbito do Dia da Memória. Para além do drama humano, a OMS alerta para as implicações económicas destes números.
Os custos são vários, entre serviços de emergência, assistência médica, reabilitação física, despesas de tribunais, custos de transportes e perda de produtividade. De salientar que 50 por cento das mortes e dos feridos graves ocorrem na faixa etária entre os 15 e os 44 anos, o segmento populacional mais produtivo da população mundial.
Perdas que Carlos enfrenta desde Março: «As pessoas normalmente têm outros objectivos, como subir na carreira. Para mim agora o principal é conseguir andar, uma coisa que para os outros é um dado adquirido. E muitas pessoas que aqui estão (com lesões lombares irreversíveis) , já nem sequer têm esse objectivo».
«Quero recuperar tudo o que perdi, o meu trabalho, andar, recuperar a faculdade de fazer as minhas necessidades sozinho. A nossa independência como ser humano é muito importante. E eu também a quero ter», sublinha.
«Mesmo a 120 o carro já é uma bomba»
Mas o mais importante, avisa Carlos, é «antes de chegar aqui (à reabilitação física) pensar que na estrada, em vez de ir a 200 podemos ir a 120, porque mesmo a 120 o carro já é uma bomba».
«O problema», acrescenta, «é que na altura as pessoas não pensam, pensam antes 'vamos andar a 200 ou a 400', mas às vezes um acidente, por mais estúpido que seja, deixa-nos numa cadeira de rodas».
Em Alcoitão, no serviço de lesões vertebro-medulares, cerca de 50 por cento dos doentes resultam de acidentes rodoviários. Uma redução dos acidentes, conduziria a uma melhor maximização dos recursos e à diminuição das listas de espera.
O director do Centro, José Pereira, explicou à TSF Online que «até há pouco tempo havia pessoas que estavam três e quatro meses para ser internadas». O que pode prejudicar a evolução das lesões já que «quanto mais precoce for a reabilitação melhores serão os resultados».
A nova direcção do Centro, que tomou posse em Março deste ano, está a fazer um esforço para aumentar a capacidade de resposta do serviço de lesões vertebro-medulares. «Antes existiam 32 camas e agora estamos com 62, pelo que estamos a conseguir diminuir a lista de espera», salienta o director.