Vinte anos depois do «Cessna» se ter despenhado, vitimando Sá Carneiro e todos os que o acompanhavam nesse voo, António Capucho e Eurico de Melo testemunham como foi o último dia do então primeiro-ministro.
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Faz hoje 20 anos que o primeiro-ministro da altura, Sá Carneiro, a sua companheira, Snu Abecassis, o fundador e dirigente do CDS, Adelino Amaro da Costa e a sua esposa, bem como António Patrício Gouveia e os dois pilotos do «Cessna», morreram em Camarate, segundos depois do pequeno avião ter levantado voo do aeroporto da Portela.
Como será que foi o último dia de Francisco Sá Carneiro?
O último dia de Sá Carneiro começou com uma reunião com os três chefes de Estado Maior das Forças Armadas e dois ministros, Cavaco Silva e Adelino Amaro da Costa. Em discussão estavam assuntos do Governo, quando a nível partidário a batalha política era a campanha do General Soares Carneiro. Nessa reunião, Sá Carneiro marcou com Amaro da Costa a fatal viagem no «Cessna» e, de seguida, partiu para o almoço.
«Foi uma conversa sobre o andamento da campanha, o ponto de situação nos vários distritos. Recordo-me que o nosso entusiasmo, ou se quiser optimismo, em relação aos resultados eleitorais da campanha, não era muito grande, porque naturalmente tínhamos indicadores de que o sucesso estava completamente comprometido. Mas, apesar de tudo, era uma conversa de pessoas que estão empenhadas numa luta, empenhadas numa causa e lutam até ao fim», declarou António Capucho à TSF.
A meio da tarde, Sá Carneiro dá uma conferência de imprensa, conferência a que assiste o então ministro da Administração Interna, Eurico de Melo.
«Fui assistir a essa conferência e lembro-me que me sentei ao lado da Snu. Essa conferência foi feita com um bocado de tensão política e pessoal, porque as sondagens eram já muito desfavoráveis a uma possível vitória do General Soares Carneiro. E despedimo-nos, convencido eu que o Dr.º Sá Carneiro ia para o Porto».
Acabada a reunião, Eurico de Melo segue para o seu gabinete. Enquanto isso, Sá Carneiro tinha encontro marcado às 19:30 com Amaro da Costa, no aeroporto da Portela, de onde levantou o «Cessna».
Oito segundos depois de ter levantado voo o «Cessna» despenhou-se.
Eurico de Melo ficou a saber por volta das 20:30 a identidade dos ocupantes, já quando se deslocava em direcção a Camarate.
«Foi por altura do Campo Pequeno, quando ia a caminho de Camarate que soube que o Dr.ª Francisco Sá Carneiro também ia nesse avião conjuntamente com a Snu e o António Patrício Gouveia. Cheguei pouco depois do acidente e foi aí que tive conhecimento, vendo o que tinha acontecido», contou Eurico de Melo à TSF.
O que realmente aconteceu, ninguém sabe. O que é certo, é que Camarate permanece um mistério, que ainda nos dias de hoje gera polémica na actualidade portuguesa.
Os vinte anos da morte de Francisco Sá Carneiro são evocados mais logo, numa sessão na Assembleia da República.
Ao final da tarde realiza-se uma missa na Basílica da Estrela, em Lisboa.