Os partidos da oposição recomendam prudência e questionam o optimismo do ministro Manuel Pinho que, esta sexta-feira, disse que a crise «acabou» na economia portuguesa.
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O economista Miguel Frasquilho, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, considera que a crise não acaba apenas com a vontade de um ministro, até porque Portugal não é imune aos males exteriores.
«O ministro Manuel Pinho é optimista por natureza e portanto não lhe fica mal dizer estas palavras, mas temos que realçar o mundo em que nos inserimos, as dificuldades que a economia portuguesa defronta quer a nível externo, quer a nível interno», salienta.
Miguel Frasquilho exemplifica com a subida das taxas de juro, decretada pelo Banco Central Europeu, e o endividamento das famílias portuguesas.
«Também gostaria muito que a crise tivesse acabado e que fosse apenas pelo facto do ministro da Economia decretar que a crise acabou que isso acontecesse», acrescenta.
O deputado social-democrata lembra ainda que no passado outros anunciaram o fim da crise, mas depois este cenário não se veriticou. Miguel Frasquilho aconselha por isso alguma prudência.
CDS-PP diz ao ministro para ter cuidado
A mesma recomendação é feita por Diogo Feio, deputado do CDS/PP. O responsável pela economia no grupo parlamentar do Partido Popular afirma que esta não é a primeira vez que Manuel Pinho exagera no optimismo e deixa um conselho ao ministro.
«Deve ter algum cuidado com as afirmações que faz, porque não é a primeira vez que se excede em algum voluntarismo. Lembro os grandes investimentos que iam sendo anunciados e depois não eram nada», adianta.
«O senhor ministro deve ter cuidado porque qualquer dia alguém o pode comparar a um conhecido ministro da propaganda de um regime ditatorial que disse que o seu Estado não estava a ser ocupado quando tinha canhões atrás», prossegue.
PCP duvida do optimismo de Manuel Pinho
Do lado do PCP, o deputado Honório Novo também duvida das palavras de Manuel Pinho.
«Por mais depressa que ele ande nas auto-estradas não é com a velocidade do automóvel que a economia cresce», diz Honório Novo com ironia.
«Seria bom que o senhor ministro da Economia tivesse razão, porque seria a única hipótese de crescermos acima de dois por cento, de ficarmos mais próximos de uma rota de convergência com a União Europeia e de combater o maior flagelo do nosso país, que é o desemprego e a exclusão social», realça.
A crise não acaba com uma varinha de condão, diz BE
Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, afirma que ninguém pode decretar o fim da crise com um toque de varinha de condão. Basta olhar para os números.
«Vários ministros têm tido a tentação de declarar com a sua varinha mágica que a crise estava resolvida, primeiro Bagão Félix, agora Manuel Pinho, mas este último sabe que com a saída da OPEL da Azambuja são 59 multinacionais em cinco anos que desaparecem de Portugal, por outro lado continuamos a ter acima de meio milhão de desempregados», adianta.
UGT realça diferenças entre ministros
O líder da UGT, João Proença, pede a Manuel Pinho que anuncie ao ministro das Finanças o fim da crise, de modo a que esta situação tenha reflexos nas negociações que estão a decorrer entre os sindicatos e o Governo.
«Seria bom que tivesse terminado, perante as declarações do senhor ministro da Economia peço-lhe para comunicar essa notícia ao senhor ministro das Finanças, porque este continua a fazer propostas que são soluções claramente de crise», considera.
João Proença aconselha ainda Manuel Pinho a olhar com mais atenção para a situação das pequenas e médias empresas, que também são importantes para o evoluir da economia.