A Orquestra Gulbenkian completa 40 anos na terça-feira. Uma história feita de «apostas ganhas» fruto da qualidade dos maestros titulares e de um «movimento perpétuo que procura chegar mais além».
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Miguel Sobral Cid, director dos Serviços de Música da Fundação Calouste Gulbenkian (SMFCG), em declarações à agência Lusa salientou a importância de uma estrutura sólida por detrás da orquestra, o que permitiu que esta atingisse «um prestígio consolidado até a nível internacional».
Doze instrumentistas de arco e um cravista foi o agrupamento que a 22 de Outubro de 1962 constitui o núcleo fundador da actual Orquestra Gulbenkian com 60 elementos. Comemorava-se o centenário de Claude Debussy mas, ainda nesse ano, o agrupamento participou em diversos espectáculos com assinalável êxito.
Ao propor a criação de um grupo musical a Fundação pretendia «dotar a vida musical portuguesa de um conjunto instrumental autónomo, que pudesse contribuir de maneira efectiva e regular, para a difusão da cultura musical, principalmente entre os mais jovens e em certos meios da província menos preparados para este género de realizações artísticas», lê-se num relatório do presidente.
Sobral Cid salienta exactamente a capacidade da orquestra em não depender de poder político nenhum e ter «a confiança que de hoje para amanhã poder-se-á continuar a trabalhar e melhor».
«Há uma perspectiva de futuro que é assegurada», frisa.
A «continuidade» é uma pedra de toque de um projecto cujo «prestigio consolidado» depende também dos maestros titulares, até aqui sempre de nacionalidade estrangeira.
«Não há um escola portuguesa de maestros, não tem a ver com a boa qualidade dos nossos em dirigir, e já dirigiram a Orquestra, mas a um maestro titular exige-se mais», disse Sobral Cid.
Um maestro titular, além da capacidade de dirigir, «tem de ter qualidades humanas e ser capaz de perspectivar, de pensar antes do tempo, de perceber o que a Orquestra necessitará daqui a três ou cinco anos em vista a uma melhoria em termos artísticos».
As quatro décadas da Orquestra, que se completam dia 22, poderão ser caracterizadas do seguinte modo: durante a década de 1960 a Orquestra «está ainda em formação, a apalpar terreno, a perguntar qual seria a sua vocação», na década seguinte «definem-se limites, há um assentamento de objectivos, consagra-se o prestigio», a década de 1980 «há uma Orquestra em plena expansão» e na década de 1990 «alcança prestígio internacional e torna-se uma referência nos círculos musicais».
A história da Orquestra Gulbenkian é feita dos vários galardões internacionais já alcançados e das críticas que salientam a sua capacidade e virtuosismo. Objectivos só conseguidos «pois consideramos que uma orquestra não é um mero conjunto de músicos, há objectivos que perseguem e há condições necessárias para um efectivo trabalho artístico», denota Sobral Cid.
Quanto ao século XXI é essencial a Orquestra «não se fechar em si própria e estar atenta ao que se passa lá fora. Uma aposta clara nos compositores contemporâneos e uma continua atenção às mudanças da cultura musical», afirma Miguel Sobral Cid.