José Saramago foi apagar as velas comemorativas dos seus 80 anos a Santa Maria da Feira, onde disse estar bem de saúde, ao contrário do país, «um cadáver em decomposição».
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Este sábado, o escritor José Saramago comemorou o seu 80º aniversário em Santa Maria da Feira, onde se mostrou apreensivo relativamente ao Estado da Nação e ao futuro dos jovens portugueses. De resto, a saúde ainda não o traiu.
O Nobel da Literatura aceitou festejar o seu aniversário em Santa Maria da Feira porque o convite partiu de um festival ao qual está ligado desde o início e que foi baptizado com as alcunhas de dois personagens de um dos seus livros,
Baltazar e Blimunda, «Sete Sóis e Sete Luas».
À pergunta «como se sente aos 80 anos?» Saramago responde: «posso mesmo dizer que escandalosamente a saúde não me pesa porque já tinha direito a andar aí com uma bengalinha, sentar-me com dificuldade, levantar-me com mais dificuldade ainda. A saúde está perfeita e a cabeça funciona».
«Nos últimos meses entrámos em decomposição»
Aos 80 anos, Saramago olha para Portugal e para o Mundo com a mesma falta de esperança e a mesma irreverência. A mudança de tons políticos no país nos últimos meses só lhe trouxe uma alteração, a entrada do cadáver em decomposição.
«Já estávamos quase na situação de cadáveres, nos últimos meses entrámos em decomposição. Há um momento em que o cadáver ainda tem boa figura e sobretudo agora com as cosméticas das agências funerárias fica até muito mais bonito do que era antes», disse num tom irónico.
O Nobel da Literatura lembra a geração de Abril como a última que foi capaz de lutar por alguma coisa. A partir daí falharam as ideias, e sem ideias não há sonhos. Olha, por isso, para os jovens de hoje com uma apreensão muito grande em relação aquilo que pode ser o futuro.
«Não vou à discoteca, não sei o que é que pensam e sobretudo não sei o que pensam que vão ser», disse.
Futuro de clones
Do alto de uma sabedoria feita de muitos anos de reflexão, Saramago perspectiva um futuro em que todos seremos clones uns dos outros: a mesma forma de vestir, estar e pensar.
«O quadro é negro, mas eu não o pintei, estamos a pintá-lo todos», concluiu.
Um aniversário celebrado com um novo livro: «Um homem Duplicado».