Quando era jovem sonhou ser actor. Os caminhos do cinema levaram-no a ser o realizador português mais consagrado no estrangeiro. Elogiada por uns e criticada por outros, a obra de Manoel de Oliveira é um símbolo da história do cinema nacional.
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É considerado por alguns como o patriarca do cinema português e na sua carreira teve sempre como objectivo primordial oferecer momentos de «prazer visual e espiritual» ao público, como afirmou em diversas entrevistas.
Manoel de Oliveira completa quarta-feira 94 anos. Ainda assim, continua a fazer um filme por ano, uma média que iniciou na década de noventa.
Recentemente estreou «O Princípio da Incerteza» nas salas de cinema, a rodagem de «Um Filme falado», a exibir em 2003, já está a terminar.
Críticas
O «alvo» de Manoel de Oliveira não é o grande público. Aliás, os portugueses reconhecem-lhe o génio mas as críticas de monotonia e lentidão marcam a sua obra. A mesma crítica à qual o realizador responde com o «amor à arte». Bastam-lhe algumas dezenas de pessoas que amem os seus filmes para se sentir gratificado e prosseguir, diz.
Prolongados planos de exposição com a câmara fixa e uma representação acentuada em muitos dos seus filmes valeram-lhe, também, várias censuras, como foi o caso do filme «Sapatos de Cetim», que tem oito horas de duração, com base no texto teatral de Paul Claudel.
Charles Chaplin e Max Linder
Foi pela mão do pai, Francisco José Oliveira, que conheceu os filmes de Charles Chaplin e Max Linder, nas sessões de cinema da Praça dos Poveiros, no Porto, cidade onde nasceu, a 11 de Dezembro de 1908, numa família da burguesia industrial.
Os primeiros estudos decorreram no Colégio Universal e, posteriormente, no Colégio Jesuíta de La Guardia, na Galiza. O gosto pelo desporto levou-o a conjugar a prática de ginástica, natação e remo, chegando a ser campeão nacional de salto à vara pelo Sport Clube do Porto.
Ainda jovem, com fama de galã e boémio, sonha tornar-se actor, e aos 20 anos inscreve-se na Escola de Actores de Cinema, chegando a participar em filmes como figurante, nomeadamente «A Canção de Lisboa», em 1933, e também mais tarde, no filme de João Botelho, «Conversa Acabada», onde fez de padre.
O pai oferece-lhe uma máquina de filmar e Manoel fica fascinado com a criação cinematográfica. Com apenas 22 anos filma a curta- metragem «Douro - Faina Fluvial», revelando um grande talento para a sétima arte, mas é pateado na primeira apresentação pública do filme.
O mesmo acontece com «Aniki Bobó», a primeira longa-metragem, que estreia em Lisboa em 1942, mais tarde considerado um dos seus melhores filmes pelo grande público.
«Acto de Primavera» foi o primeiro filme a ser premiado, no Festival de Cinema de Siena, em 1963, ano que fica marcado também pela detenção de Manoel de Oliveira pela PIDE durante uma sessão pública do filme, em Lisboa, tendo depois sido detido na prisão de Aljube, em Lisboa.
É a partir dos anos 80 que começa a crescer o reconhecimento no estrangeiro, nomeadamente nos festivais de Veneza, Cannes, Locarno, Pesaro e Montreal, onde exibem os seus filmes em estreias ou retrospectivas.
Depois da consagração com um Leão de Ouro pelo conjunto da obra, recebido em Itália, o autor de «Amor de Perdição» é feito comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, Mário Soares.
Entre outros prémios, recebeu uma menção especial do júri de Cannes para o filme «Non ou a vã Glória de Mandar» em 1990. Esse ano assinala também o início da produção anual de filmes, e a presença da sua obra em festivais internacionais estende-se a São Francisco, nos EUA.
Outro reconhecimento do seu talento vem do Parlamento Europeu, cinco anos mais tarde, quando figura num grupo de 12 cineastas homenageados, ao lado de grandes nomes do cinema, como Federico Fellini, Andres Wadja, Carl Dreyer e Ingmar Bergman.