A imagem de milhares de súbditos fiéis do faraó (ou escravos) a rolarem blocos de pedra de várias toneladas em direcção a uma pirâmide que cresce em direcção ao céu, pode passar à história. Joël Bertho, arquitecto francês, avança com uma explicação revolucionária: as pedras foram moldadas no local.
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As pirâmides do Egipto ainda levantam numerosas interrogações, e a menor delas é como foi possível erguer semelhantes estruturas num tempo em que não havia máquinas, em que apenas a força e o engenho humano levantavam as toneladas para glória do faraó. A revista «Science et Vie» revela uma teoria dum arquitecto francês, Joël Bertho, que indica que os enormes blocos de pedra podem ter sido feitos na própria pirâmide, usando moldes.
Teoria «louca» explica muita coisa
Embora à primeira vista esta teoria pareça bastante inverosímil, a verdade é que ela explica muitos factos que, até agora, intrigavam os especialistas. Como é que os antigos egípcios levantavam pedras até 146 metros de altura?
Em partes da Grande Pirâmide de Keóps as pedras estão alinhadas com uma tal precisão que uma folha de papel não poderia passar entre elas. As juntas não se conseguem ver, resultado de um trabalho de cinzelamento perfeito. Os egípcios conseguiram mesmo fazer convergir os bordos convexos e côncavos.
Finalmente, o estado das pedras é impressionante: os ângulos ainda estão nítidos e as suas arestas cortantes, a superfície está lisa e as pedras não aparentam ter sido transportadas, mas sim esculpidas no local. A perfeição dos acabamentos pode fornecer provas para a teoria dos moldes, defendida por Joël Bertho em «La Pyramide reconstituée», e divulgada na edição de Dezembro da revista «Science et Vie».
Bertho, numa viagem ao Egipto, viu todos estes indícios, e mais um, que confirmava a sua teoria: algumas pedras tinham duas estrias paralelas, que indicam a presença de um molde. O arquitecto não tem dúvidas: «este facto indica mais a argamassa triturada do que a pedra talhada». A análise do ladrilhamento que rodeia a pirâmide acaba de convencê-lo. A sua margem inferior ajusta-se perfeitamente no solo, tapando a mais pequena falha.
Para reproduzir a maneira como estas pedras foram feitas, se aceitarmos a teoria clássica de que foram talhadas, seria necessário levantar estas lajes gigantescas várias vezes, para polir a sua face inferior a verificar o seu ajustamento. Uma tarefa bastante morosa, que nenhuma exigência arquitectural justifica. Mas se escorrermos o betão para um molde exposto ao sol, a pedra líquida cobre as mais pequenas fendas.
Bertho acredita que a aparente irregularidade das pedras na pirâmide (aparente porque todas elas encaixam perfeitamente umas nas outras) se explica também devido à utilização do método do molde. Para este efeito ter sido alcançado com a pedra talhada, o trabalho teria a dimensão de esculpir cada pedra. O molde seria a explicação.
A técnica do molde
Os antigos egípcios utilizavam a areia ou trituravam a pedra calcária e peneiravam-na. Seria depois aquecida num forno a 800-1000 graus Celsius, onde seria transformada em cal. Esta seria misturada com pó de pedra não cozida ou areia, à qual se juntaria água. Esta preparação seria depois despejada num molde em madeira revestido a couro. Deixava-se secar ao sol antes de retirar o molde, podendo ficar mole o centro das pedras maiores. A cal seria a ligação desta pedra artificial, e o pó de de pedra não cozida o «esqueleto» do bloco.