Pelo menos 62 jornalistas foram mortos em 2000 no exercício da sua profissão, quer na cobertura de guerras quer na investigação de crimes e de actos de corrupção, revela um relatório da Federação Internacional de Jornalistas divulgado hoje.
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«O ano 2000 ficou marcado por uma série de assassínios e tentativas de assassínio contra jornalistas que mostram bem os perigos que enfrentam os repórteres em todo o mundo», sublinha o relatório da maior Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) hoje divulgado.
O relatório anual inclui uma lista de 37 jornalistas que foram mortos em serviço e mais 20 que se suspeita terem sido assassinados quando procediam a investigações de casos incómodos.
Incluída na lista está também a morte de cinco outras pessoas ligadas aos meios de comunicação social, nomeadamente um condutor libanês que conduzia uma equipa de televisão da BBC que morreu quando a sua viatura foi atingida por um obus disparado por um tanque israelita, e três funcionários mortos num atentado à bomba contra o jornal paquistanês «Nawa-Waqt».
Os números deste ano são, no entanto, inferiores aos de 1999, quando 86 jornalistas morreram no exercício da profissão, incluindo 25 na Jugoslávia e 11 na Serra Leoa.
Este ano, segundo a FIJ, registou-se uma maior tendência para o assassínio de jornalistas envolvidos na investigação e na denúncia de casos de crime organizado, de corrupção e de falta de democracia.
«Os números falam por si, jornalistas em todo o mundo arriscam diariamente as suas vidas para expressarem uma opinião independente e a denúncia de actos errados», afirmou o secretário-geral da FIJ, Aidan White. «Em todos os cantos do mundo jornalistas pagam um preço terrível na luta pela democracia».
Como exemplo de jornalistas assassinados por motivos políticos o relatório destaca o caso do jornalista moçambicano Carlos Cardoso, um destacado editor que morreu quando investigava o desaparecimento de 8,7 milhões de dólares (dois milhões de contos) do Banco Comercial de Moçambique, atingido por uma rajada de tiros de arma automática em Novembro.
É ainda referido o caso do jornalista espanhol José Luis Lopez de la Calle abatido a tiro pelo grupo separatista basco ETA, que cada vez mais tem como alvo dos seus ataques os jornalistas, e o russo Serguei Nivikov, proprietário de uma estação de rádio que frequentemente criticava os dirigentes políticos locais e que foi assassinado a tiro na cidade de Smolensk.
A Colômbia continuou a ser em 2000 o país mais perigoso para os jornalistas, onde morreram 11 profissionais, a maioria assassinada por grupos paramilitares tanto de esquerda como de direita.
Oito jornalistas foram mortos na Rússia este ano, incluindo três na Tchetchénia.
O relatório menciona ainda a morte de vários jornalistas na cobertura de conflitos armados, nomeadamente do operador de câmara da Associated Press Gil Moreno de Mora e do repórter da Reuters Kurt Schork, vítimas de uma emboscada dos rebeldes na Serra Leoa.
A FIJ, que representa 420.000 jornalistas em todo o mundo, elogia também a decisão dos principais órgãos de comunicação internacionais, nomeadamente da Associated Press, Reuters, BBC e CNN, de criarem um código de segurança para o seu pessoal jornalístico.