O procurador-geral da República, numa entrevista ao semanário Sol, publicada este sábado, afirma que sentiu que o lugar poderia estar em perigo durante episódios do processo Casa Pia, que encarou como tentativas de o colocarem contra o Presidente da República, Jorge Sampaio.
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No balanço do mandato, que termina dia 07 de Outubro, Souto Moura, afirma que sempre depositou «uma grande confiança» em Jorge Sampaio, mas afirma que «houve três ou quatro episódios» que interpretou como «tentativas claras» de criar uma ruptura com aquele presidente da República.
A primeira situação, que elege como o pior momento do mandato, foi «o episódio da carta anónima junta o processo Casa Pia e em que se falava de diversas figuras, incluindo o próprio PR».
A «publicação das listas dos nomes das fotografias que a polícia usou para identificar pessoas» foi outra situação embaraçosa referida por Souto Moura, seguida da «crise da demissão de Adelino Salvado da direcção da Polícia Judiciária».
A uma semana de Jorge Sampaio cessar funções como presidente da República surgiu a polémica relacionada com o «Envelope 9», uma lista das chamadas feitas por altas figuras do Estado.
«Interpretei o caso como a derradeira tentativa de o convencer pôr-me fora» conclui Souto Moura.
O ainda procurador afirma que «se voltasse atrás aceitava o cargo à mesma», embora admita que durante o mandato lhe ocorreu demitir-se.
«Não digo que não me tivesse passado pela cabeça deixar o cargo, mas achei sempre que havia pessoas que mereciam que eu continuasse: além dos que trabalharam no processo, as vítimas e a directora da Casa Pia», revelou.
Interrogado sobre se foi alvo de pressões políticas, Souto Moura afirma não se lembrar de as ter sofrido, concretamente do Governo, apesar de ter trabalhado com quatro ministros da Justiça.
Souto Moura reconheceu que as restrições orçamentais se sentiam no quotidiano da Procuradoria, acrescentando que «foi uma situação-limite que depois o Ministério da Justiça corrigiu».
Questionado sobre se reconhecia ter cometido gafes no exercício do cargo, o procurador admitiu ter tido «duas ou três intervenções de quem não está nada à vontade com a comunicação social».
«O que acho extraordinário é que a imagem que me colaram foi a de que sou um indivíduo que de vez em quando diz uns disparates num vão de escada e nada mais interessou para me avaliarem», argumentou.
Sublinhando que nunca mentiu deliberadamente sobre o processo Casa Pia, Souto Moura referiu que se viu «pressionadíssimo» pelo assédio da Comunicação Social.
Souto Moura classificou ainda de «pouca-vergonha» a revelação de escutas do processo, revelando que esta situação o deixou «incomodadíssimo».
O ainda procurador-geral da República é substituído pelo juiz conselheiro Fernando Pinto Mnteiro, que toma posse dia 09 de Outubro.