Gustavo Castelo Branco, galardoado com o Prémio Gulbenkian Ciência 2001, critica a falta de reconhecimento que Portugal dá aos seus investigadores. O cientista defende a aplicação de estímulos a profissionais com maior produção científica.
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Um cientista que não vê o seu trabalho reconhecido é o mesmo que um pintor que não vende quadros, sublinhou Gustavo Castelo Branco, um dos cientistas galardoados com o Prémio Gulbenkian Ciência 2001.
«O prestígio de um cientista tem de ser medido pelo impacto do seu trabalho na comunidade internacional», frisou o investigador do Centro de Física das Interacções Fundamentais do Instituto Superior Técnico (IST), em declarações à agência Lusa.
O investigador - que já passou por universidades como a de Bona (Alemanha), Genebra (Suiça), Carnegie-Mellon (EUA) e Laboratório Europeu de Investigação Nuclear (CERN) - lamenta que em Portugal apenas uma minoria valorize a internacionalização da ciência.
O cientista criticou também o facto de, em Portugal, não existirem métodos idênticos aos do estrangeiro onde a diferenciação dos salários dos professores catedráticos depende da sua produção científica.
Gustavo Castelo Branco é um dos poucos cientistas portugueses que conseguiu reconhecimento a nível nacional e internacional. Além das dezenas de artigos que tem publicado (quase cem), os trabalhos do investigador mereceram 1728 citações em todo o mundo.
Porque existe o ser em vez do nada?
Saber porque existe um excesso de matéria no Universo que permitiu a formação das galáxias, planetas e do Homem continua a ser um dos grandes mistérios da Física e foi uma das áreas escolhidas por Gustavo Castelo Branco para desenvolver o seu trabalho.
Aliás, o Prémio Gulbenkian de Ciência 2001 distinguiu precisamente um livro, de que é co-autor, que sintetiza os principais desenvolvimentos em violação de CP, a «chave» para resolver este mistério.
«As leis teóricas da Física prevêem que à matéria tenha de corresponder a anti-matéria. Ou seja, que a um electrão, por exemplo, tenha de corresponder uma partícula com características exactamente iguais, mas com carga eléctrica oposta, o positrão», explicou Gustavo Castelo Branco.
Na prática, se existisse uma simetria absoluta entre matéria e anti-matéria estas aniquilar-se-iam e existiria apenas luz.
«Grande parte do Universo é de facto composto por luz. Mas existiu um pequeno excesso de matéria que permitiu que se formassem as galáxias, os planetas e os seres vivos», disse.
A violação da simetria CP, formada pela troca de partículas com antipartículas (transformação C) conjuntamente com a troca da esquerda pela direita (transformação P), foi descoberta em 1964.
Desde então, centenas de investigadores no mundo inteiro têm-se debruçado sobre este fenómeno, que constitui uma condição essencial para a formação do excesso de matéria sobre a antimatéria.
O livro «CP Violation» - publicado pela Oxford University Press em 1999, da autoria de Gustavo Castelo Branco, Luís Manuel Lavoura e João Paulo Silva, investigadores do Centro de Física das Interacções Fundamentais do IST - procura abordar as centenas de trabalhos existentes sobre as relações entre matéria e antimatéria.