O escritor belga Henry Bauchau foi o vencedor do prémio internacional União Latina de literatura deste ano, considerando o júri que a sua obra, «tão ampla e profunda» não recebeu ainda «todo o reconhecimento que merece».
Corpo do artigo
A decisão foi anunciada hoje na Casa da América Latina em Paris. A escritora portuguesa Maria Velho da Costa tinha sido nomeada para este prémio pelo segundo ano consecutivo.
Esta é a 13 edição do evento, que em 1991 laureou José Cardoso Pires e em 1997 Agustina Bessa-Luís.
Actualmente com uma dotação de dez mil euros, o prémio será entregue numa cerimónia em Roma no final de Novembro.
A União Latina foi fundada em 1954 e reúne 35 países «que partilham o mesmo património linguístico, histórico ou cultural latino», entre os quais Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau.
Em declarações à agência Lusa, o escritor Almeida Faria, que integra o júri da União Latina desde 1996, admitiu que Maria Velho da Costa, cuja candidatura ele mesmo sugeriu, terá sido prejudicada pela falta de traduções da sua obra.
Por outro lado, considerou «merecida» a atribuição do prémio a Bauchau, « um clássico não muito conhecido», e disse esperar que o galardão ajude a divulgar os seus livros, «que não são best-sellers» e, inclusivamente, não estão traduzidos em Portugal.
Presente na cerimónia, o autor belga, actualmente com 89 anos, declarou-se «emocionado» pela honra de receber este prémio, o qual «tem um carácter internacional» que a sua obra quer transmitir.
«Desejo que todos os povos se possam entender», disse Bauchau, dando o exemplo dos gregos e da sua «cultura extraordinária que não se deixou afectar pelas suas divisões», um tema que estudou e sobre o qual reflectiu nos seus livros.
Bauchau descobriu a sua vocação muito tarde, quase aos 40 anos, quando fazia psicoterapia em Paris, entre 1947 e 1950, e só publicou o seu primeiro livro, «Géologie», aos 45 anos, em 1958.
Nascido na localidade belga de Malines em 1913, passou a sua infância em Bruxelas, onde se inscreveu aos 19 anos na faculdade de direito de Saint Louis e depois na de Lovaina.
Mobilizado em 1939 para a II Guerra Mundial, participou na campanha dos 18 dias em Maio de 1940 e entrou para a resistência francesa em 1943, tendo regressado, ferido, em 1944 ao seu país de origem.
Instalado em Paris desde 1946, concentrou a sua obra, num primeiro período, na cultura chinesa, tendo publicado «Gengis Khan» em 1960, «A China interior» em 1975 e uma biografia de Mão Zedong em 1982.
Como terapeuta, publicou, em 1981, «La sourde oureille ou le rêve de Freud», um livro poético inspirado directamente na psicanálise.
Nos anos mais recentes debruçou-se sobre o mito universal de Édipo, ao qual vários textos em poesia e prosa.
Criado em 1989, o prémio União Latina pretende homenagear um escritor de língua latina, sem distinção de país ou continente, cuja obra mereça ser largamente difundida e traduzida nos países latinos.
O júri actual é presidido pelo italiano Vincenzo Consolo e composto por Christiane Duchesne (Québec), Jesús Ferrero (Espanha), Almeida Faria (Portugal), Sylvie Germain (França), Dan Haulica (Roménia), Ana Miranda (Brasil), Francesca Sanvitale (Itália) e Jorge Volpi (México).