O Instituto Roslin, que clonou a ovelha Dolly, e o laboratório de biotecnologia Viragen anunciaram hoje que vão colaborar na produção de proteínas humanas e anti-corpos para combater o cancro.
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O projecto pretende criar galinhas que produzam ovos contendo novos medicamentos que poderão servir para tratar várias doenças, incluindo o cancro.
Enquanto animais como vacas, ovelhas ou coelhos poderão ser manipulados para produzir medicamentos no leite, a aplicação do mesmo processo em aves pode levar a uma produção de medicamentos maior, mais rápida e mais barata.
Segundo Helen Sang, investigadora no Instituo Roslin, cada galinha geneticamente modificada deverá pôr, por ano, 250 ovos que produzirão grandes quantidades das proteínas desejadas. Até ao momento, a produção de proteínas, mesmo em quantidades laboratoriais, revelou-se difícil e cara, e o aperfeiçoamento de novos medicamentos, destinados a cuidar de doenças como o cancro nos ovários e na mama, foi bloqueado.
Em declarações à agência Lusa Lisete Fernandes, investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), revelou que um dos grandes benefícios da criação de um animal com estas características será a de transformar as galinhas em «máquinas que produzem a proteína desejada».
«Em vez de se matar a galinha para extrair a proteína, basta recolher os ovos, o que torna o processo mais barato já que a máquina (a galinha) continua sempre em funcionamento», acrescentou.
Para Magnus Nicolson, presidente do laboratório Viragen «este esforço conjunto vai servir para produzir uma grande variedade de medicamentos em maior volume e com uma fracção do custo, comparado com os métodos tradicionais».
A mudança dos genes no núcleo celular do animal (local da célula onde a informação genética está armazenada) pode dar origem a galinhas que põem ovos abundantes nas proteínas desejadas.
Segundo Lisete Fernandes o cancro pode ser ainda designado, em termos muito simples, «por uma proliferação descontrolada de células. Isto significa que num dado momento as células perdem o controlo e não param de se dividir», explicou.
Esta situação pode, segundo a cientista, ocorrer devido à falta de uma determinada proteína que existe em todas as células. Assim, se for possível administrar a dita proteína às células tumorais, estas voltam a ganhar o controlo e param de se dividir, o que permitiria o controlo do cancro.
Ainda segundo a investigadora do IGC, pode-se explicar o cancro como as células cancerígenas tendo componentes específicos. A produção de uma determinada proteína que se ligasse a esses componentes específicos serviria para assinalar a célula cancerígena, que poderia assim ser eliminada mais facilmente pelo organismo humano ou por medicamentos.