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Um projecto pioneiro em termos ambientais quer «revolucionar» a mata de Sesimbra, anulando o polémico empreendimento do Meco. O plano da Pelicano/Espart pretende ser líder a nível mundial e contará com o apoio da WWF.
Sem qualquer uso de energias fósseis e sem qualquer produção de resíduos, o projecto pioneiro para a mata de Sesimbra será líder mundial em empreendimentos ecológicos, reduzindo fortemente a pegada ecológica.*
Para tal baseia-se em princípios fundamentais, como o uso de materiais sustentáveis, o uso eficiente de energia renovável, o uso de recursos locais, evitando os transportes, além de prever a conservação da fauna e flora locais e a conservação e reabilitação do património.
Numa área de 5200 hectares, a implantação de edifícios destinados ao turismo e habitação será feita em 60 hectares, com um índice de utilização turística de 0,02, recorrendo a uma «pereequação», uma concentração num único local dos 12 projectos previstos actualmente para a área.
O conceito ecológico será aplicado desde a sua construção, devido aos materiais recicláveis e aos processos a serem usados. A energia que será usada nos edifícios é pensada ao pormenor, para garantir um balanço zero, mas fazendo com que as habitações não deixem de ser confortáveis.
Projecto de Sesimbra é exemplo mundial
O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) vai assinar um contrato de apoio ao projecto, a 20 anos, em que controlará rigorosamente os meios aplicados, certificando-se que o conceito «One Planet Living» é mantido.
Jean Paul Jeanrenaud, director da «WWF International», disse à TSF que esta «vai ser a primeira construção desta dimensão no mundo que contém processos de redução de energia e de resíduos».
«Vai ser um importante exemplo para o resto do mundo. O problema é que as ONG pedem às pessoas que tenham uma vida menos confortável, sem aquecimento ou luz, regressando a condições primitivas», acrescentou.
«Este projecto vai mostrar que se pode ter uma qualidade de vida igual ou melhor que num edifício comum. Mostra que a sustentabilidade pode ser boa para o planeta mas também para as pessoas», explicou.
O projecto terá que recorrer aos recursos locais, incluindo o comércio, evitando os transportes responsáveis pela maior parte das emissões de dióxido de carbono.
Em termos de mobilidade está previsto um sistema avançado de comunicações digitais, meios colectivos de transporte, numa «cidade ciclável», com hierarquia de vias e restrições ao parqueamento. Tudo a convidar os futuros utilizadores a não usarem as suas viaturas.
Sustentabilidade é essencial
José Manuel Palma, responsável pelo plano de sustentabilidade, explicou à TSF que «isto é uma coisa que há muito tempo que se diz que tem que ser feita. Este projecto vai pô-la em prática com objectivos concretos mesuráveis, para o consumo de energia das casas, para o transporte dentro e fora do empreendimento e para o consumo de bens da região».
«Os objectivos serão vigiados pela 'WWF International' com quem haverá um contrato a longo termo, a 20 anos, com objectivos precisos em cada área que constituem a visão de um planeta vivo, com a redução da pegada ecológica», sublinhou.
O abastecimento de água ao empreendimento é planeado a vários níveis, com fornecimentos diferenciados para a água potável, para regas, para sanitas e para os campos de golfe previstos, além de serem incluídos sistemas de reutilização de água.
Para cada um dos conjuntos a serem construídos haverá um hotel, aldeamentos turísticos, um campo de golfe e áreas de desporto, cultura e educação ambiental.
BedZED é exemplo a ultrapassar
O empreendimento quer ainda revitalizar a mata de Sesimbra, já que o pinhal bravo está fortemente afectado pela doença nemátodo do pinheiro, mantendo um elevado risco de incêndios, e as linhas de água locais estão assoreadas. O projecto pioneiro segue o exemplo do actual líder mundial em termos ambientais, o BedZED em Inglaterra.
O «Beddington Zero Energy Development» foi desenvolvido pela empresa Bioregional, que apoia também o projecto português, situa-se nos arredores de Londres e tem sistemas de produção de energia própria, tratamento e reaproveitamento de água e águas residuais, permitindo a cada habitante ter um quintal próprio.
Os seus sistemas de aquecimento dão nas vistas, no topo dos edifícios, aquecendo casas e escritórios através de uma simples, mas eficaz, troca de ar quente e ar frio.
Primeira pedra lançada em 2005
A Pelicano/Espart prevê que o plano de pormenor do projecto esteja aprovado na autarquia de Sesimbra no início de 2004 e que o estudo de impacto ambiental seja concluído em meados do próximo ano, permitindo que a construção seja lançada no início de 2005.