Os holandeses deverão rejeitar esta quarta-feira a adopção da Constituição Europeia, na sequência do primeiro referendo de sempre no país. As sondagens não deixam dúvidas, podendo o voto ter algo a ver com a pouca popularidade do governo Balkenende.
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Os cerca de 11,6 milhões de holandeses começaram a votar esta quarta-feira de manhã para o referendo à Constituição Europeia, na primeira consulta popular da história do país e que parece ter já assegurado o «não» pelo menos a acreditar em todas as sondagens feitas para o efeito.
As últimas sondagens indicam mesmo que o «não» deverá ainda ser mais expressivo do que em França, onde 54,87 dos eleitores rejeitaram a adopção da Constituição Europeia.
Apesar de ser consultivo, a maioria dos políticos holandeses já disse que respeitará o sentido de voto dos eleitores, caso o referendo tenha uma participação superior a 30 por cento, o que deverá acontecer.
De acordo com o conselheiro da embaixada portuguesa em Amesterdão, o «não» dos holandeses está relacionado com a punição às políticas do governo dirigido pelo democrata-cristão Jan Peter Balkenende, considerado por alguns como o «pior em 30 anos».
Em declarações à TSF, Luís Barros assinalou ainda que o «não» cresceu nas últimas sondagens, mesmo antes de se conhecer a rejeição do Tratado Constitucional Europeu em França.
«Estudos que têm havido sobre as motivações dos eleitores indicam que a motivação do 'não' em parte tem a ver com o descontentamento contra o governo e a situação», explicou.
Arie Pos, professor de holandês na Universidade de Coimbra, criticou o governo holandês pelo facto de não ter explicado atempadamente as implicações da Constituição Europeia.
«O governo já tinha assinado o acordo sobre os conteúdos das leis e agora está a consultar a população com um facto consumado e isso parece que não está a resultar muito bem», explicou o docente, que entender não haver nenhum «sentimento anti-europeu» nos seus compatriotas.
Já o jornalista Ben van der Velden entende que o resultado da consulta popular em França apenas poderá influenciar positivamente na questão do número de votantes, já que o «não» já aparecia com vantagem há muito tempo.
«Existe o receio de uma grande abstenção e talvez haja agora mais pessoas a votar. O que é quase certo é que o número de votantes na Holanda será bem menor do que em França», acrescentou este jornalista radicado em França.
As primeiras projecções deverão surgir logo após o fecho das urnas marcado para as 21:00 locais (menos uma hora em Lisboa), devendo os resultados finais estarem apurados cerca da 1:00 de quinta-feira (hora de Lisboa)
Num último apelo antes do referendo, na terça-feira à noite, o primeiro-ministro holandês Jan Peter Balkenende, lembrou que «o futuro da Holanda é na Europa» admitindo que, apesar de não os partilhar, «compreende» os receios da população sobre a perda de influência do país no UE.