A missão científica portuguesa que averiguou a eventual existência de vestígios de radioactividade no Kosovo e na Bósnia, vai anunciar hoje as suas conclusões. O relatório foi elaborado a pedido do Ministério da Ciência e da Tecnologia.
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A missão científica portuguesa que averiguou a eventual existência no Kosovo e na Bósnia de vestígios de radioactividade perigosos para a saúde vai anunciar hoje as suas conclusões, disse à agência Lusa uma fonte oficial.
O relatório da missão que o Ministério da Ciência e da Tecnologia mandatou para recolher amostras e fazer medições no terreno será apresentado em conferência de imprensa na qual estarão presentes o ministro José Mariano Gago, o presidente do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) e os peritos desta instituição que se deslocaram ao Kosovo e à Bósnia.
A versão preliminar do documento, divulgada em Fevereiro (dia 05), refere não terem sido detectados vestígios de contaminação ambiental por influência de urânio empobrecido nas análises efectuadas até então, quando estavam estudadas um terço das amostras recolhidas.
A missão encontrou fragmentos dos penetradores de urânio com que são enriquecidas as munições de 30 milímetros utilizadas pela NATO nos Balcãs, tendo constatado que se encontram dentro das especificações técnicas anteriormente anunciadas pelo comando militar da Aliança Atlântica.
Segundo o investigador que chefiou a missão científica, Fernando Carvalho, director do Departamento de Protecção Radiológica do Instituto Tecnológico e Nuclear, os fragmentos encontrados não libertam radiação que possa ser considerada perigosa.
A missão científica portuguesa esteve entre 05 e 10 de Janeiro no Kosovo e entre 10 e 19 de Janeiro na Bósnia para avaliar uma eventual contaminação radioactiva e o risco radiológico resultantes do uso de munições potenciadas com urânio empobrecido para a saúde dos militares que prestaram serviço nas duas regiões dos Balcãs.
O envio de cientistas portugueses para os Balcãs foi a resposta governamental à morte de militares destacados na zona e às queixas das suas famílias que apontavam o urânio empobrecido utilizado em algumas munições como a origem do problema.
Características
O urânio empobrecido é um resíduo do processo de enriquecimento do minério de urânio. Tal como outros metais pesados, como o chumbo, o urânio empobrecido é quimicamente tóxico.
Além disso, é também um emissor de partículas alfa com um tempo de vida radioactiva médio da ordem dos 4,5 mil milhões de anos. O urânio empobrecido está classificado pelo instituto de política ambiental do exército norte-americano como "lixo radioactivo de fraca actividade que deve, consequentemente, ser armazenado nos locais autorizados".
A utilização de munições potenciadas com penetradores de urânio empobrecido no Golfo e no Kosovo é criticada pelos ecologistas por, alegadamente, provocar mortes, malformações e problemas de esterilidade.
Segundo estas teses, controversas cientificamente, o perigo das munições com urânio empobrecido seria proveniente, não da sua radioactividade, mas das poeiras particularmente tóxicas que elas libertam no momento do impacto.
Os investigadores portugueses estiveram nos diferentes locais da Bósnia (Sarajevo, Rogatica, entre outros) e Kosovo (Klina, Pec e Pristina) onde estão ou estiveram colocados militares, polícias e civis portugueses.
Recolheram amostras de poeiras, água, alimentos e solos para monitorizar os índices de radioactividade provocada por urânio empobrecido e o seu grau de perigosidade para a saúde pública.