A observação de indicadores como o ritmo cardíaco ou a actividade cerebral permite identificar numa pessoa estados emocionais como a alegria ou a tristeza, defendeu esta segunda-feira, em Lisboa, o neurologista António Damásio.
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Na conferência «A Biologia das Emoções», promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, o autor da obra «O Erro de Descartes» explicou os fundamentos neurológicos dos sentimentos e a sua repercussão em zonas específicas do organismo.
De acordo com Damásio, investigador e professor na Universidade de Iowa, Estados Unidos, a neurociência permite identificar determinadas áreas do cérebro como as responsáveis pela vivência de emoções concretas.
A lesão da amígdala (zona do cérebro), por exemplo, pode impedir que o paciente consiga sentir medo, assim como danos na zona ventromedial do lóbulo pré-frontal bloqueiam a vivência de emoções sociais como a vergonha, a simpatia ou a compaixão.
Esta relação entre o biológico e o emocional permite «desenhar» uma espécie de mapa cerebral dos sentimentos, que poderá ser fundamental no tratamento de diversas doenças como a depressão ou as dependências, referiu o professor.
Além disso, os avanços da «neurologia das emoções» podem ter também uma importante aplicação sociológica, permitindo uma maior compreensão do ser humano, nomeadamente ao ajudar a perceber «a forma como se estabelecem as convenções sociais e os conflitos que originam as guerras».
Apesar de a ciência estar cada vez mais próxima da constituição do tal mapa, estabelecendo relações directas entre sentimentos e zonas do organismo, António Damásio ressalvou que «o cérebro não pode ser concebido como um conjunto de módulos que permitem recriar emoções, pondo e tirando peças».
«O cérebro é muitíssimo complexo e confuso. Não tem nada a ver com um computador ou com um objecto criado por um engenheiro, mas com algo desenvolvido ao longo de milhões de anos pela 'engenharia' da Natureza», explicou.
A palestra dada hoje António Damásio integra-se no ciclo de colóquios «Despertar para a Ciência» organizado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela Fundação Calouste Gulbenkian.