Perceber o que está na origem do aumento das tentativas de suicídios é uma das preocupações da Sociedade Portuguesa de Suicidologia que foi hoje constituída. A sociedade conta com 70 sócios fundadores de todo o país.
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Perceber o que está na base do «aumento dramático» das tentativas de suicídios registado nos últimos 10 anos é uma das principais preocupações da Sociedade Portuguesa de Suicidologia que foi hoje, sábado, formalmente constituída.
A sociedade tem 70 sócios fundadores de todo o país, entre psiquiatras, clínicos gerais, psicólogos e outros técnicos de saúde mental e investigadores dos comportamentos suicidas e terá sede na Liga dos Amigos dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).
Os psiquiatras Daniel Sampaio, fundador do Núcleo de Estudos Suicidas de Lisboa, Adriano Vaz Serra, professor catedrático e director da Clínica de Psiquiatria dos HUC, e Carlos Braz Saraiva, coordenador da Consulta de Prevenção do Suicídio da mesma unidade hospitalar, são alguns dos nomes que fazem parte da sociedade.
Carlos Braz Saraiva, membro da comissão instaladora do novo organismo (as eleições para a direcção devem realizar-se em finais de Janeiro), explicou à Lusa que o motivo das preocupações da sociedade científica não resultam das taxas do suicídio consumado (que têm vindo a diminuir) mas sim das tentativas de praticar o acto que continuam a aumentar.
«Um trabalho feito pela consulta de prevenção de Coimbra indicia que o número de tentativas de suicídio de doentes observados em urgências hospitalares deve ser 30 vezes mais do que o número de suicídios consumados», explicou. Tendo em conta que em 1999 se registaram 650 suicídios consumados, as previsões não são animadoras, confessa o psiquiatra.
Carlos Braz Saraiva disse ainda que as adolescentes são aquelas que mais se tentam suicidar, «usando o seu corpo como forma de revolta e de lidar com problemas afectivos», mas são os homens com mais de 40 anos que mais vezes concretizam o acto.
Outros objectivos da sociedade
Entre os objectivos da Sociedade Portuguesa de Suicidologia está também a representação de Portugal em organismos internacionais (nomeadamente na Associação Internacional de Prevenção do Suicídio) e a dinamização de simpósios, congressos e reuniões científicas sobre o tema.
Pretende também «prestar cuidados de saúde em consultas diferenciadas» como as que existem nos HUC e no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, acrescentou.
No que respeita às consultas de Coimbra, de que é coordenador, Carlos Braz Saraiva afirmou assistir 100 novos doentes por ano, sendo que, desde a sua criação em 1992, o número cifra-se já em cerca de um milhar.
A ideia de constituir a Sociedade surgiu há quatro anos, nas primeiras jornadas sobre comportamentos suicidas, que reuniu em Idanha-a-Nova investigadores de todo o país.
O interesse pela problemática pode ser comprovado pelo aumento gradual do número de participantes das jornadas, realizadas bienalmente: em 1996 eram 150, em 1998 duplicaram para 300 e este ano, no Luso, estiveram presentes 400 pessoas.