Depois da comissão médica ter aprovado, por maioria, a co-incineração em Outão e Souselas, o ministro do Ambiente vai anunciar os novos passos deste sistema. Entre deputados, autarcas e ambientalistas, as opiniões divergem.
Corpo do artigo
O ministro do Ambiente vai hoje anunciar as próximas etapas do processo de co-incineração de resíduos industriais perigosos (RIP), durante uma conferência de imprensa cuja hora ainda está por marcar.
O grupo de médicos responsáveis por avaliar as consequências deste processo na saúde das populações concluiu ontem que a co-incineração não provoca danos graves nos moradores de Souselas (Coimbra) e Outão (Setúbal), locais onde está prevista esta actividade.
A decisão esteve perto da unanimidade já que só o voto do professor da Universidade de Coimbra, Massano Cardoso, foi contra este parecer. «As dúvidas são muitas e os riscos ainda mais», considerou.
Massano Cardoso discorda da decisão de avançar com este processo nas cimenteiras mas apoia a construção de raiz de estruturas próprias para este fim.
Desconhece-se o que José Sócrates irá hoje dizer, mas o ministro avisou que iria respeitar a decisão dos médicos, pelo que se considerassem que a co-incineração não era uma causa de prejuízos para a saúde pública, «o Governo prosseguiria com o sistema de tratamento de resíduos industriais».
Sócrates sublinhou ainda que espera que os deputados respeitem também a decisão médica, já que foram eles que solicitaram esta segunda avaliação, depois de efectuado o relatório da Comissão Científica.
O ministro do Ambiente encontrou apoio no secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Pedro Silva Pereira, que acredita que «estão agora reunidas as condições para que, sem mais adiamentos, se avance para a resolução de um dos mais graves problemas ambientais do país».
Opiniões divergentes
Para o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, a decisão médica «é inequívoca» e desfaz qualquer obstáculo à co-incineração.
Este autarca assegurou que irá promover a criação de um Observatório do Ambiente para acompanhar o processo.
Na mesma autarquia as opiniões divergem já que o vereador social-democrata, João Pardal, acredita que o professor Massano Correia, ao votar contra, «não embarca em incertezas».
Manuel Alegre partilha a opinião do referido professor universitário e alerta para os malefícios da co-incineração para «a saúde pública, para o país e para Coimbra».
O deputado do PSD, José Eduardo Martins, diz que o relatório do grupo de médicos «não altera um milímetro» a posição do partido e chama a atenção para o facto da co-incineração não resolver mais de 3 por cento dos RIP, sendo preferível regenerar e reciclar.
Os ambientalistas
A ausência de unanimidade na decisão dos médicos é um factor que suscita «dúvidas significativas», na opinião de Manuel Cunha de «Os Verdes».
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) considera que este relatório não vem trazer nada de novo e que se limita a analisar os dados disponíveis.
Os ambientalistas da GEOTA receberam o parecer médico sem surpresas mas reforçam a ideia de que a co-incineração só tem sentido se incluída numa política global.
A Quercus - Associação Nacional para a Conservação da Natureza afirma que a decisão da comissão médica não deve pôr de parte «um futuro acompanhamento das populações» de Souselas e Outão.
A Associação de Defesa do Ambiente de Souselas (ADAS) reafirmou que a sua posição «é irredutível» na recusa da co-incineração nos fornos da cimenteira local.
O presidente da Scoreco (a empresa licenciada para proceder à co-incineração e de cuja constituição fazem parte as cimenteiras Cimpor e Secil), garante que «a co-incineração será um processo seguro».
Gonçalves da Silva garante que será uma actividade controlada por «dez entidades diferenciadas e o mais transparente possível, podendo ser acompanhada por todos, desde os organismos de saúde pública, as associações ambientalistas e a comunicação social».