Um novo tratamento das doenças cardiovasculares mais frequentes, que actua a nível genético, está a ser testado actualmente e poderá ser, no
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De acordo com o director do Serviço de Cardiologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), Luís Providência, estes novos fármacos constituem, «provavelmente, o tratamento do futuro».
«Já há alguns resultados no Homem, mas ainda são controversos», adiantou à Agência Lusa o catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) durante a 3ª Reunião Internacional sobre Doenças Cardiovasculares, este ano dedicada às Síndromas Coronárias Agudas.
Segundo o médico dos HUC, a angiogénese terapêutica está a ser testada em alguns países da Europa e nos EUA e poderá constituir um «tratamento revolucionário» em patologias como a angina de peito e o enfarte do miocárdio.
Estes fármacos actuam a nível genético induzindo a criação de novos vasos, que passam a irrigar o miocárdio, superando as deficiências na sua irrigação.
As doenças cardiovasculares, particularmente as relacionadas com o desenvolvimento da aterosclerose, têm vindo a aumentar no mundo ocidental, constituindo um «importante problema de saúde pública, devido à sua elevada mortalidade e morbilidade».
Das suas manifestações mais frequentes fazem parte as síndromas coronárias agudas, as quais englobam a angina instável e o enfarte agudo do miocárdio.
Na reunião, que começou hoje nos HUC e que termina sábado, são apresentados os últimos avanços na fisiopatologia da aterosclerose, na sua vertente epidemiológica, inflamatória e infecciosa, as capacidades diagnósticas da ecocardiografia, ressonância magnética, tomografia de emissão de positrões (PET) e cardiologia invasiva.
São também abordados os avanços obtidos com a terapêutica cirúrgica e com medicamentos que baixam o colesterol, que previnem a oclusão vascular e que promovem a formação de novos vasos (a angiogenese).
Especialistas oriundos de países como os EUA, França, Itália, Grécia, Portugal, Alemanha e Grã-Bretanha são oradores na reunião, organizada pela Disciplina de Cardiologia da FMUC e pelo Serviço de Cardiologia dos HUC.
A reunião encerra as comemorações dos 25 anos do Serviço de Cardiologia dos HUC que, em 1998 (a última estatística conhecida), foi o que registou o maior número de doentes internados entre os seus congéneres portugueses.
Nos últimos dez anos, o Serviço de Cardiologia dos HUC aumentou em mais de 2000 o número de internamentos e em quase 4000 o número de consultas externas.
Outros dos dados revelados por Luís Providência, indicam que, na última década, o número de electrocardiogramas aumentou em 13 mil e o número de doentes submetidos a estudos hemodinâmicos passou de 873 para 1739.
Uma portaria recente da ministra da Saúde disponibilizou a verba de meio milhão de contos para as salas de hemodinâmica (Cardiologia) e angiografia periférica (Imagiologia), permitindo ao serviço dirigido por Luís Providência renovar o «mais antigo equipamento de hemodinâmica a funcionar em Portugal», uma necessidade sentida há muito.
O Serviço de Cardiologia dos HUC teve a sua origem em 1940 com a criação, por João Porto, de um Instituto de Cardiologia, inicialmente apenas com a consulta externa e a que se juntaram, posteriormente, duas enfermarias.
Mário Trincão e Ramos Lopes foram os seus responsáveis posteriores, tendo sido este - presidente honorário da reunião - o seu primeiro director, quando a Cardiologia se autonomizou, em 1974, do Serviço de Medicina Interna.