Um novo livro de Agostinho da Silva foi lançado quinta-feira na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa. Na sessão, foi recordada a obra e o percurso de um pensador livre que toda a vida lutou contra todas as «restrições à cultura».
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«Textos Dispersos» conclui uma colecção de 12 volumes da obra de Agostinho que a Âncora e o Círculo de Leitores têm vindo a editar desde 1999.
A recolha e organização dos textos agora publicados resulta do esforço conjunto da Associação Agostinho da Silva, dos herdeiros do espólio, e também de académicos e amigos do pensador, que assim pretendem continuar a divulgar a obra de Agostinho.
O filho do filósofo, Pedro Agostinho (foto abaixo), antropólogo docente na Universidade de Salvador da Baía, no Brasil, representou os herdeiros que detêm os direitos sobre o espólio de Agostinho. A família do pensador disponibilizou grande parte dos textos inéditos publicados nesta última edição.
Pedro Agostinho confessou que a sua presença, enquanto herdeiro, era um «paradoxo», uma vez que o pai defendia uma «liberdade cultural» sem qualquer tipo de «restrições». «Porque a obra de Agostinho é do povo português», o professor preferiu apresentar-se com representante dos filhos do pensador.
O ministro da Cultura também esteve no painel de convidados. Pedro Roseta recordou a actualidade do pensamento de Agostinho, lembrando o filósofo como alguém que defendia um mundo «pluricultural». Onde as sociedades são abertas «a todas as culturas».
Contra «fronteiras» ao conhecimento
Agostinho «acreditava que a liberdade só existe quando há liberdade de pensamento», disse Pedro Roseta. O ministro recordou que o pensador «nunca se conformou com as fronteiras» ao conhecimento impostas pela ditadura.
Em 1935, Agostinho da Silva foi demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a «Lei Cabral», que o obrigava a não seguir a ideologia marxista. Revoltado com a imposição do Estado português, o pensador auto-exilou-se em 1944, depois de alguns anos em Madrid, no Brasil onde ficou até 1969.
Pelo caminho fundou as universidades federais de Paraíba e de Santa Catarina, deu aulas, e foi assessor de política cultural externa do presidente da República Jânio Quadros.
Doutorado em Filologia Clássica pela Universidade de Letras da Universidade do Porto, Agostinho da Silva fundou diversos centros de estudos filológicos em Portugal e no Brasil. Morreu em 1994, aos 84 anos, deixando obras sobre Filosofia, História, Literatura, Arte, Pedagogia e Entomologia.
«Foi um homem muito importante pelo seu pensamento sobre Portugal e a projecção do nosso país noutros, como foi o caso do Brasil», salientou o ministro da Cultura.
Pedro Roseta referiu que o governo brasileiro solicitou ao executivo português que fosse criada uma comissão conjunta que prepare as comemorações do centenário do nascimento do filósofo, que se celebra em 2006.
Na sessão de quinta-feira este também presente o presidente da Associação Agostinho da Silva, Paulo Borges, criada em Portugal em 1995 por um grupo de amigos e admiradores do filósofo.