A decisão anunciada, quarta-feira, de entregar a organização da Taça América de Vela a Valência em detrimento de Lisboa, causou satisfação aos trabalhadores da Docapesca. O Sindicato dos Pescadores reitera a «prepotência» do Governo.
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Isabel Cardoso, co-proprietária de uma oficina e posto de abastecimento nas instalações de Pedrouços, em declarações à agência Lusa, disse que «é bem feito para o Governo. É um dia muito feliz para mim, porque já que eles estragaram a nossa vida, valha-nos ao menos isto».
«Por exemplo, para o meu caso, o Governo não apontou qualquer solução», afirmou, acrescentando que será obrigada a despedir sete trabalhadores.
Os trabalhadores da Docapesca acreditam que «a realização da Taça América foi apenas um pretexto» para tirá-los de Pedrouços, e sublinharam que estão «contra a decisão do Governo, e não contra a prova em si».
Segundo o empresário Arménio Dias «o Goveno não soube conduzir bem o processo e não deu tempo para que as empresas encontrassem alternativas».
Na Docapesca trabalhavam cerca de 200 empresas de congelados e peixe fresco, tendo a venda sido transferida para o Mercado Abastecedor de Lisboa (MARL), em Loures, no passado dia 03 de Maio.
Protestos e arrogância derrotam Portugal
Por seu lado, o presidente da Associação de Comerciantes de Cascais considerou que a «arrogância» do Governo e os protestos dos trabalhadores da Docapesca, onde ficaria o estaleiro da Taça América, terão pesado no afastamento de Portugal da organização do evento.
Pedro Canelas disse, ainda, saber que a equipa do Sindicato Alinghi (vencedor da anterior edição da Taça América) esteve em Cascais para analisar a força e intensidade dos ventos, mas acabou por apontar críticas ao estacionamento e aos acessos.
A Taça América é o quarto maior evento desportivo do Mundo, logo depois dos Jogos Olímpicos, e dos campeonatos do Mundo e da Europa de futebol.
A ser realizada em Portugal, a Taça América, representaria um crescimento económico para o país de sete por cento, similar ao que se regista actualmente nos Estado Unidos.
Por isso Pedro Canelas considera que os pescadores escolheram uma má altura para protestar contra o encerramento daquela estrutura de apoio à actividade piscatória em Lisboa.
Sindicato «triste»
Segundo as contas dos sindicatos, a decisão do Governo vai afectar directamente a vida de cerca de cinco mil trabalhadores.
O presidente do Sindicato Livre dos Pescadores e Profissões Afins, Joaquim Piló, em declarações à TSF, manifestou-se «triste» pela «prepotência do Governo».
«O Governo não soube lidar com o problema, pôs em risco a vida dos pescadores da pesca artesanal, se tem tido outra atitude teria muito mais poder para tentar trazer a Taça América para Portugal», afirmou.
«Agora queremos saber como é que o Governo vai argumentar a utilidade pública para destruir o empreendimento Docapesca», concluiu Joaquim Piló.