Terminou a primeira fase dos trabalhos arquológicos na margem direita do rio Guadiana. Foram descobertas 160 rochas com gravuras rupestres, sendo que uma gravura pode ter dez mil anos de existência, do período do paleolítico superior.
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A primeira fase dos trabalhos arqueológicos na margem portuguesa do Guadiana terminou sexta-feira e a visita ao longo de 75 quilómetros, contribuiu para a descoberta de 160 rochas com gravuras rupestres.
Martinho Batista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), garantiu à Lusa que a grande maioria dos painéis identificados, remontam aos períodos neolítico e calcolítico, mas adiantou que a última semana de trabalhos poderá ter contribuído com um dado novo.
A semana passada «foi identificada uma gravura que poderá ser do paleolítico superior (cerca de dez mil anos)», referiu a mesma fonte.
Os arqueólogos do CNART vão voltar ao local, durante os meses de Setembro e Outubro, para uma «campanha complementar», mais virada para a recolha de imagens fotográficas dos painéis.
Martinho Batista considera que o Guadiana representa «um dos maiores sítios de arte rupestre pós-glaciar peninsular», mas inferior, quer em quantidade, quer em qualidade, ao Vale do Tejo, onde na década de 70 foi descoberto um importante núcleo de arte do neolítico.
No Guadiana estão já referenciadas cerca de 500 gravuras rupestres, mais de 300 das quais na margem espanhola do rio.
Grande parte das gravuras encontram-se, segundo Martinho Batista, abaixo da cota 139, reclamada pelos ambientalistas, que criticam a opção governamental de enchimento da Albufeira à cota 152.
O representante do ICOMOS, Conselho Internacional responsável pela Classificação de Monumentos e Sítios Arqueológicos, no âmbito da UNESCO, o sueco Ulf Bertilsson, esteve no Guadiana para verificação de algumas rochas com figuras filiformes e antropomórficas.
Ao encher a albufeira, as gravuras vão permanecer debaixo de água, com excepção das que se encontrem em rochas soltas ou partidas, defende Martinho Batista, para quem não deve ser eliminada a relação futura das gravuras com o rio, tese partilhada por Ulf Bertilsson.
O programa de trabalhos foi decidido pelo Instituto Português de Arqueologia (IPA), pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) e pelo CNART, depois da descoberta, em finais de Abril, de três painéis de gravuras no concelho do Alandroal.
O empreendimento do Alqueva, considerado irreversível desde 1997, centra-se na construção da barragem, que criará um lago com 250 quilómetros quadrados de superfície, 83 quilómetros de comprimento e cerca de mil e cem quilómetros de margens.